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domingo, 28 de agosto de 2011

AUTOCONHECIMENTO

       As pessoas estão muito preocupadas em viver o aqui e o agora, como se não houvesse um ontem em suas vidas e muito menos o amanhã. Agem impulsivamente, não toleram quando as coisas não acontecem no tempo que determinam. Projetam de forma pueril, para o externo, a culpa do que não deu certo em suas vidas, pois não conseguem assumir a responsabilidade que tem em relação à mesma.

       Procuram manipular o ambiente em que vivem, pois assim, acreditam conseguir alterar hábitos e propensões do mesmo. Com isso aprendem a viver numa mentira crassa, acreditando, como dizia Machado de Assis, que a mentira muitas vezes é tão involuntária quanto à transpiração. Acreditar nisso é uma bela forma de não sofrer ao mentir. Afinal se ela é involuntária, foge do seu controle. Consequentemente, não é culpado.

      Levam uma vida de enganos e isso pode ser facilmente visível, pois as pessoas não querem mais aceitar as marcas que a própria vida, vai deixando, com o passar dos anos. Desde muito cedo começam a usar silicone, botox, colocam fio de ouro, fazem preenchimento e utilizam tantos outros métodos mais invasivos, como se fosse possível enganar o tempo. Isso demonstra o quanto o ser humano está preocupado só com o externo, com a aparência, com a beleza efêmera, com o status, esquecendo que a maior riqueza que existe é o seu interior.

     Entretanto, percebe-se que as pessoas parecem estar ocas, pois não conseguem estabelecer um diálogo mais profundo, por não terem argumentos que lhes dê sustentabilidade para defender seu ponto de vista. Não conseguem perceber e muito menos falar sobre si. Isso está muito relacionado à falta de leitura e o fato de não terem o hábito de pensar. Chegam a verbalizar o desejo de não pensar sobre determinados assuntos, principalmente sobre aqueles que estão relacionados a sua pessoa. Preferem viver e conviver com o seu falso eu, assim sente-se mais felizes.

    Confesso que fico chocada e até muito frustrada quando escuto isso de alguns pacientes. Questiono como querem fazer terapia sem pensar, procuro ver se isso é possível, mas obviamente que não. Sempre deixo claro ao paciente que o processo terapêutico é algo dolorido, pois é inviável não pensar sobre a forma como conduz sua vida, sem questionar quem realmente é, e sem entender porque tem determinadas atitudes. Esse pensar faz com que vejamos o quanto nos maltratamos e isso é muito dolorido, mas essa é a única maneira que temos para melhorarmos como pessoa. Caso contrário, viveremos num processo de auto-engano constante.

    A pessoa que conhece a si mesmo sabe de seus próprios limites, por isso não exorbita de sua capacidade. Consegue desenvolver o hábito de analisar e identificar seus próprios sentimentos e desejos, verificando se não está se deixando envolver por algo exagerado, que poderá vir a lhe acarretar um sofrimento psíquico futuramente. Porém, não é muito comum encontrar pessoas que funcionem dessa maneira. O que vemos em nossa sociedade, são pessoas que não sabe quem realmente são e por isso acabam cometendo exageros.

    Devido o autodesconhecimento, as pessoas se percebem de forma inflamda, se supervalorizam, tentam se mostrar de uma maneira que não condiz com a sua realidade. Não se dão conta que agir dessa forma, é romper com realidade interna. Procuram estabelecer comparações com outros, sem examinarem de forma real o que existe de comum entre ela e o outro. Assim, deixam transparecer claramente o sentimento de inveja, mas não se permitem reconhecer e aceitar isso, por julgarem um sentimento muito pequeno e que não condiz com a sua pessoa. Afinal, se percebem de forma muito superior.

    O desejo ardente de conseguir algo, a certeza inexpugnável que o movimenta, não permite que veja a sua limitação, até onde pode ir, sem causar nenhum prejuízo ao outro. Esse desejo desenfreado de conquistar algo lembra o que o filósofo Demócrito dizia “desejar violentamente uma coisa, é tornar-se cego para as demais. Por vezes, as pessoas ficam com um pensamento obsessivo em relação a algo e não consegue enxergar as outras oportunidades que a vida lhes oferece.

    É importante estar aberto para vida, prestando atenção nos sinais que ela nos dá. Para tanto, é necessário que a pessoa se autoconheça, pois assim, conseguirá decodificar a simbologia que a vida lhe dá. Através desse processo, encontrará o equilíbrio e o entusiasmo para ir ao encontro de suas ambições, sem frustrações, pois saberá reconhecer o seu limite.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

É POSSÍVEL VIVER COM SOBRIEDADE?

       Tenho pensando e observado muito nos últimos tempos, a forma como as pessoas estão vivendo atualmente. Acreditam estar vivendo de forma intensa, se expondo a situações de risco, muitas vezes, sem se darem conta. Sofrem da síndrome da falta de tempo, pois isso demonstra o quanto são ocupadas e importantes. Mesmo sabendo que o que as impede de fazer algo, muitas vezes, são coisas supérfluas. Ficam horas na Internet, nos sites de relacionamentos, jogando conversa fora, se atualizando sobre a vida dos outros e falando sobre a sua.

      Isso me faz pensar sobre o vazio interno dessas pessoas, da necessidade que tem de se fazerem reconhecer, de tornarem a sua vida pública, porque falam até de seus problemas no Facebook, no Orkut, ou seja, precisam chamar a atenção de qualquer jeito. Provavelmente por isso, pautam suas vidas em cima de simulacros que passam a acreditar que são verdades. Precisando viver no mundo da ostentação, sem perceber que isso é fruto de suas carências afetivas.

    Mesmo sabendo que esse tipo de vida que escolherão viver, só lhes tira a tranquilidade, a paz e não as permite ter uma boa qualidade de vida, porque estão sempre correndo para conseguir algo, não desistem de viver assim.

      Infelizmente estamos vivendo num mundo onde a palavra sobriedade ficou esquecida. Sobriedade significa simplicidade, moderação, humildade. Hoje as pessoas que optam por viver com simplicidade, com moderação, que se mostram mais humildes, são rotuladas como medrosas, inseguras, com poucas ambições, acomodadas. E aí fico a me questionar, será que essas pessoas não têm uma melhor qualidade de vida?Não tem uma noite de sono mais tranquila, pois não precisam se preocupar com as contas a pagar? Será que não são pessoas mais felizes?

    Normalmente são pessoas que optaram por deixar as vaidades do ego de lado e priorizaram viver com mais sabedoria. Preferiram escutar não o que a sociedade grita, mas o que a voz da alma, sem fazer alarde, manifesta.

    Entretanto, essas pessoas muitas vezes são desprezadas e desvalorizadas pela sociedade, que as vê como excêntricas. No meu entendimento, são pessoas de muita sabedoria. Porque não estão presas aos valores que a sociedade lhes impõe. Vivem em paz consigo e não estão preocupados com o que os outros pensam a seu respeito.

    O único grande risco que se corre ao optar por viver com sobriedade é saber reconhecer quando essa decisão não é uma forma de estar se enganando, de estar querendo chamar a atenção dos outros, mas sim um real desejo do seu verdadeiro eu. Às vezes as pessoas se julgam sóbrias, humildes, mas na sua fala se percebe a grandeza do ego. .

    Não é fácil no mundo moderno conseguir viver com sobriedade, mas é algo que precisaríamos ao menos tentar, porque provavelmente nos sentiríamos melhor. Não correríamos o risco de desenvolver tantas patologias clínicas e psíquicas como temos atualmente.

    O que precisamos ter claro que sempre é possível começarmos a escrever a nossa história de forma diferente. Que temos a capacidade de mudar a forma como vivemos a qualquer momento, para isso, basta que reconheçamos a necessidade da mudança e que realmente estejamos dispostos a fazê-la.


sábado, 20 de agosto de 2011

ESTAR SÓ NÃO É SINÔNIMO DE SOLIDÃO

        A maioria das pessoas teme e foge da solidão, pois a vêm como algo de muito sofrimento, de muita dor, de muita tristeza. O sentimento de solidão vivido por elas é de ausência, de vazio, de escuridão, de medo, de insegurança. Sendo assim, procuram estar envolvidas em atividades profissionais, com amigos, com familiares. Dessa forma, não correm o risco de se defrontar com o desconhecido, ou seja, com o seu verdadeiro eu.

       O grande medo que as pessoas têm em relação à solidão é o encontro consigo, por não saberem quem realmente são. Preferem viver de modo superficial, no faz de conta, sem procurar entender como funcionam. Projetam a culpa de tudo que lhes acontece para os outros, não conseguindo assumir a responsabilidade de nada. É bem mais fácil responsabilizá-los, do que ter que assumir que a sua vida é o reflexo de suas escolhas. Daí a dificuldade de ficar só.

      Quando ficam sozinhos sentem-se rejeitados, abandonados e sofrem muito com isso, pois deve ser um sentimento que os acompanha, por algum tempo. Provavelmente, são sentimentos que fazem parte da sua história, preferindo nem lembrar.

        Entretanto, tem aqueles que preferem estar sós, gostam de sua companhia e conseguem fazer suas coisas sozinhas, sem depender de ninguém. Participam de grupos, compartilham momentos com a família, com os amigos e colegas, mas não abrem mão de terem o seu momento de ficar só. Aproveitam esse momento para ler, ouvir uma música, meditar, fazer as coisas que lhe dão prazer e até mesmo para curtir o ócio. São pessoas que conseguem conviver muito bem com a solitude

       Nem sempre ser só é motivo de sofrimento, pelo contrário, pode ser de muito prazer. Desde que a pessoa saiba conviver com isso. A pessoa que consegue viver assim, não sofre de solidão,  vive com prazer a solitude.

       Somente por meio da solitude é que a pessoa consegue entrar em contato com o seu centro mais íntimo. A partir do momento que a pessoa conseguir isso, perceberá que este é um centro rico, cheio de bênçãos e que tem tudo que necessita para viver bem. Perceberá que a dor de ficar só desapareceu, pois o espaço antes preenchido pela solidão, agora é ocupado pela paz, pela alegria, pela serenidade, pela felicidade e pelo amor.

      As pessoas que vivem em solitude sabem muito bem conviver com os outros, não acabam por se tornar um ermitão.  As relações que estabelecem, são com o propósito de compartilhar suas experiências. Diferente das pessoas que vivem na solidão, que precisam se apegar a alguma coisa ou a alguém, para terem a certeza de que não estão sós.

       A pessoa que sofre de solidão chega, por vezes,  a implorar a amizade do outro, pedindo para que lhe dê atenção e ocupe aquele vazio que carrega dentro de si e que tanto lhe assusta. Esquecendo, normalmente, que a outra pessoa, provavelmente, também vive a mesma situação, não tendo como suprir o que deseja. Isso lhe faz sofrer, porque as pessoas acabam se afastando por se sentirem muito exigidas.

        Procure viver a solitude, pois esta além de ser saudável, lhe dá a alegria de viver, enquanto a solidão só lhe dá sofrimento.





terça-feira, 16 de agosto de 2011

CRIAR HISTÓRIAS SOBRE SUA PESSOA PODE SER UMA DAS MANEIRAS DE TENTAR EVITAR A SOLIDÃO

       Confesso que tem me chamado muito a atenção, o comportamento de determinadas pessoas que usam da fantasia para chamarem a atenção dos outros. Geralmente são pessoas que precisam estar em evidência, devido seus desajustes internos.

       As pessoas que tem esse tipo de funcionamento normalmente se julgam muito inteligentes, subestimando a inteligência do outro. Não percebem que muitas vezes, as pessoas escutam e até demonstram certo interesse por educação, pois já sabem que toda a história contada, não passa de mais um, dos inúmeros contos que já criou.

      Se apropriar das fantasias do seu inconsciente para algo útil, penso que é válido. No entanto, quando o uso dessas é para chamar a atenção sobre sua pessoa, é preocupante, pois se trata de sintoma.

       Há muitos anos atrás, esse tipo de pessoa era taxado por muitos como loucas, em função de suas histórias, que na maioria das vezes, eram compreendidas como devaneios. O surgimento da psicanálise nos permitiu ter outro olhar e uma nova compreensão para esse tipo de funcionamento, podendo ser tratado através da psicoterapia.

       Entretanto, o que me chama a atenção nesse tipo de comportamento é que está muito presente em nossa sociedade, independente da classe social. O mais interessante, ainda, é que sempre encontramos algo que o justifique. Na realidade, penso que isso vem ocorrendo, pela dificuldade que as pessoas têm de poder entrar em contato consigo mesmo, de saberem quem realmente elas são, de serem conhecedoras da sua verdadeira história.

       Conhecer-se é algo que assusta muito as pessoas, pois têm medo do que poderão ver. Temem que se outros, os conhecerem realmente, poderão acabar na solidão. O medo da solidão contribui para dar asas à imaginação, criando histórias, onde geralmente a pessoa se coloca na situação de vítima. Sendo vítima, os outros se preocupam com ela, não lhe abandonam e com isso acaba por não ficar só. Doce ilusão!

      A tristeza de tudo isso, é que na maioria das vezes, essas pessoas contadoras de histórias, acabam sozinhas. Ninguém mais tem paciência para ficar escutando sua fala, por saber que muito do que está sendo contado não é verdadeiro. Entretanto, o autor da história que está tão envolvido e preocupado em contá-la com certo sensacionalismo, a fim de prender a atenção do outro, não percebe que esse seu comportamento só está desgastando a sua relação com as pessoas. Essa falta de percepção e de crítica é que contribuem para que acabe na solidão.

      Penso que é importante pensarmos sobre a nossa forma de agir e de interagir com as pessoas, a fim de não nos tornarmos um contador de histórias sem credibilidade.

domingo, 14 de agosto de 2011

O RELACIONAMENTO COMO UMA FORMA DE APRENDIZAGEM

        Toda a relação interpessoal pode ser vista como uma forma de aprendizagem, um treino de paciência, de tolerância, de flexibilidade, de compreensão, entre tantas outras coisas.

       Conviver com alguém, significa que temos que aprender a lidar com a diferença, sabendo que a nossa verdade não pode ser vista como absoluta. Até porque isso não é algo inteligente, precisamos ter claro que a nossa verdade se dá em cima dos valores que fomos aprendendo no decorrer do desenvolvimento da nossa personalidade. Assim como a verdade do outro. E penso que é ótimo as pessoas não pensarem as mesmas coisas, pois assim temos a oportunidade de conhecermos realidades, costumes e culturas diferentes.

      Percebo a dificuldades que algumas pessoas têm nos seus ambientes profissionais, quando vem que existem colegas que não aceitam a sua maneira de funcionar, que não compartilham com a sua forma de pensar. Isso muitas vezes, é motivo de desavenças, de trocas de farpas, de desmotivação, gerando um alto nível de estresse e às vezes, até de depressão, não só para a pessoa, mas para todo o ambiente de trabalho. Isso evidência o nível de onipotência dessas pessoas. Desde quando temos que agradar e sermos aceitos por todos? Cristo que veio com o propósito de unir, de desenvolver a paz entre os povos não agradou a todos, por que temos que agradar? Onde está escrito que as pessoas são obrigadas a aceitar a maneira como funcionamos? Quem disse que a forma como pensamos e agimos é a forma correta?

      Se ao invés de ficarmos criticando e agredindo a forma de pensar e agir do outro, nos abrirmos para tentar entender e respeitar a sua maneira de ser e de funcionar, com certeza, sofreremos menos. No entanto, essa parece ser a parte mais difícil, porque sempre existe aquele que tem dificuldade de ser flexível, que precisa impor as suas idéias, que projeta todo o problema para os outros, que acredita que a sua maneira de fazer as coisas é a mais correta. Fica incomodado quando percebe que a chefia estende seu olhar para os demais colegas, passando a se sentir preterido.

     São essas atitudes pueris e egoístas das pessoas, que não conseguem perceber que os seus conflitos internos estão lhe trazendo prejuízos nos seus relacionamentos interpessoais, que acabam fazendo com que muitas vezes o ambiente familiar e profissional se torne adoecidos.

    Por isso, a importância de nos avaliarmos no final de cada dia, para vermos como estamos funcionando, o que precisamos mudar o que temos que corrigir em nós. Esse exercício não é algo muito fácil de fazer, porque precisamos deixar as nossas vaidades de ego de lado e entrarmos em contato com o nosso verdadeiro eu, algo que nos tempos modernos as pessoas evitam fazer. Entretanto, a partir do momento que começarmos nos apoderarmos desse exercício, veremos o quanto conseguiremos ser mais saudáveis e estabelecermos relações mais harmônicas, que nos permitirão viver um sentimento de paz.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

AS DIFICULDADES NA CONVIVÊNCIA DO DIA-A-DIA

        Dividir um espaço com os outros não é algo muito fácil. Isso independe se o espaço a ser dividido é com a família, com o parceiro, com os amigos ou colegas de trabalho. Lidar com as diferenças, aceitar as opiniões divergentes, as críticas, as reclamações, o mau humor, tem sido uma tarefa difícil, por exigir muita habilidade, flexibilidade e paciência. Ingredientes que estão cada vez mais escassos no mundo moderno.

     Hoje se as pessoas com quem nos relacionamos não correspondem a aquilo que idealizamos, é motivo suficiente para nos afastarmos, para não querermos mais investir na relação. Com isso, tenho a sensação que o ser humano passou a ser visto como uma mercadoria descartável. Nos relacionamentos afetivos percebe-se muito isso. Só que essa atitude também vem acontecendo nas famílias, os pais quando não conseguem dar limites aos filhos adolescentes, coisa que deveriam ter feito até os três anos de idade, acabam por verbalizar que estão largando de mão. Confesso que isso me assusta e me preocupa, pois vejo cada vez mais crianças e jovens empobrecidos de afetos.

     Infelizmente a praticidade do mundo moderno faz com que as pessoas não se interessem mais em compreender o que está acontecendo com a outra pessoa. Logo verbalizam que não é um problema seu e vão saindo fora. Não se dão conta que o outro não tem que dar conta das nossas expectativas, das coisas que idealizamos para ele. Outro só tem que ser o que realmente é.

      Por vezes, fico com a sensação de que as pessoas pensam estar se relacionando com um boneco de argila, o qual pode ir moldando conformem querem. Esquecem que a outra pessoa foi criada por uma família com costumes, hábitos, valores e cultura diferentes. Sendo assim, os seus interesses, desejos e comportamento irão divergir. O importante é que frente às dificuldades de relacionamento, possamos sentar e conversar sobre elas, procurando chegar a um denominador comum. Sabendo que é necessário respeitar a forma de pensar do outro, mesmo que consideremos absurda. O absurdo, o certo e o errado, ou seja, os opostos são coisas extremamente subjetivas. Portanto, cada pessoa tem o direito de pensar e interpretar as coisas conforme as suas vivencias e não da maneira que julgamos correta.

    Talvez se conseguirmos fazer o exercício de falar sobre as diferenças, escutando o que o outro não gosta do nosso comportamento, respeitando a sua opinião, argumentando quando necessário, entendendo os seus medos e inseguranças, consigamos viver melhor, sem tantos conflitos.

domingo, 7 de agosto de 2011

A NECESSIDADE QUE AS PESSOAS TEM DE SE EXPOR

        Nos últimos meses tenho ficado impressionada com a necessidade que as pessoas têm de se expor, levando muitas vezes assuntos tratados em consultório para rua. Isso que ao iniciarmos um processo terapêutico, fazemos o contrato, onde é falado da importância do sigilo e que esse não é só por parte do terapeuta, mas também do paciente. No entanto, percebo que isso não está ocorrendo, por parte dos pacientes.

       Sendo assim, comecei a me questionar e conversar com algumas colegas sobre esse assunto, até para verificar se isso era um problema que estava ocorrendo só com os meus pacientes. Precisava de um termômetro, pois se isso fosse apenas com eles, seria um indicativo de que eu é que estava tendo problemas ao fazer o contrato. Caberia a mim, trabalhar isso no meu processo terapêutico ou em supervisão.

       Porém, vi que isso não era só comigo, mas que é algo que está acontecendo também com as demais colegas e deixando-as desconfortáveis, assim como eu. Comecei a pensar sobre o motivo que poderia estar por trás disso, afinal de contas, no setting terapêutico, falamos às coisas que nos incomodam, que nos magoam, nos entristecem que nos colocam muitas vezes em saia justa. Verbalizamos as nossas frustrações e procuramos buscar no inconsciente as respostas para isso e tantas outras coisas, pois esse é o espaço que temos para nos conhecermos.

     É o momento de cada pessoa entrar em contato consigo mesmo, procurando se entender, se conhecer, se aceitar. Compreender a origem de muitas coisas relacionadas à sua maneira de funcionar e, portanto, penso que isso só interessa a própria pessoa, até porque a nossa vida não é pública. Não precisamos contar para todo mundo as nossas intimidades.

     No entanto, verifica-se a necessidade que as pessoas têm de falar da sua terapia e de colocar o terapeuta fora do consultório. Não percebem que além de se exporem, de correrem o risco de as pessoas terem um entendimento errôneo sobre suas colocações, de poderem vir a fazer um julgamento errado sobre a sua pessoa, ainda expõe o profissional que lhe atende.

      Na medida em que ia pensando, fui me dando conta que hoje as pessoas têm uma necessidade muito grande de se expor nas redes sociais, nos sites de relacionamentos, nos grupos em que participam. Muitas colocam várias informações sobre sua vida, ficando totalmente expostas. Outras criam personagens para se relacionarem no bate-papo e acham isso engraçado. Alguns mal conhecem alguém e já falam de toda sua vida. Isso não ocorre só na internet, mas pessoalmente.

       Percebe-se o quanto as pessoas estão carentes, sentindo a necessidade de falar sobre as coisas que lhes angustiam, o quanto querem ser escutadas. Fico com a sensação de que muitas vezes, por trás dessa fala está um pedido de socorro, de desespero, de alguém que não consegue dizer “me olhem, me escutem, eu preciso falar, não agüento mais”.

      O não se conhecer, a falta de crítica, o não pensar, a falta de ética são coisas que contribuem para que as pessoas ajam dessa maneira, pois não conseguem refletir e entender o que significa falar dos seus conteúdos internos para os outros. Qual a dimensão que isso poderá ter, o que poderá acarretar na sua vida. Não percebem o quanto isso pode depor contra elas, por demonstrar um nível de ansiedade elevado, um ego muito inflado, vaidoso, que tem a necessidade de se mostrar para os outros, bem como a sua carência, a sua fragilidade frente a determinadas situações. Correm o risco de as informações serem utilizadas contra elas próprias. Sem falar que as pessoas parecem ter aberto mão da sua privacidade.

      Também podemos pensar que muitas vezes as pessoas falam de si e de suas coisas, pois não tem sobre o que falar, pela sua pobreza de assunto, já que não se interam muito sobre o que está acontecendo no mundo e também já perderam o hábito da leitura.

      É importante que as pessoas comecem a pensar sobre os motivos que estão levando a se expor, quais os ganhos que estão tendo com isso e reflitam sobre essa maneira de agir. Talvez assim, consigam começar a se conhecer, a entender que a partir do momento que conseguirem compreender o porquê de muitas coisas da sua maneira de agir, dos sentimentos que carrega consigo, dos seus pensamentos, verá que não tem a necessidade de falar sobre as coisas intimas de sua vida para todo mundo. Saberá eleger as pessoas certas para colocar o que lhe angustia e trocar uma idéia, mesmo que essa pessoa não seja o seu terapeuta.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A FALTA DE ÉTICA PODER SER UMA DAS CAUSA DO SOFRIMENTO HUMANO

     Apesar de ver e ouvir muitas coisas no decorrer do dia, ainda fico surpresa e não sei se este seria o melhor termo a usar, em relação ao comportamento das pessoas. É impressionante e até mesmo triste de ver a falta de ética que vem imperando nas relações humanas em nossa sociedade.

    Muitas pessoas ainda pensam, apesar de este ser um assunto que está muito em voga, que a ética só existe nas relações profissionais, comerciais. Não sabem que se não formos éticos conosco, não conseguiremos ser com os demais. A ética cabe em qualquer situação de nossa vida.

    O conceito de ética não pode ser confundido com o conceito de moral. A ética é totalmente internalizada, construída no ambiente familiar, cultural, acadêmico e afetivo, no decorrer do desenvolvimento da personalidade. Ela é construída de dentro para fora (endógena). Apesar de a moral também ser internalizada e construída, ela parte de um grupo social, que lhe ensinará as normas ou regras de como deverá funcionar, mas não as impõe. A moral é construída de fora para dentro (exógena).

   Durkheim conceituava moral como a “ciência dos costumes”, sendo algo que é anterior a própria sociedade. Já no entendimento de Piaget o indivíduo vai internalizando conhecimento e saberes, construindo a sua consciência ética e moral.

    Entretanto o que tem se percebido no mundo moderno é que esses conceitos em relação à ética e moral foram se perdendo, levando as pessoas agirem da forma que lhes beneficie, não importando os prejuízos que poderão causar no outro ou a si mesmo.

    O avanço da ciência, da tecnologia parece ter contribuído muito para isso e aí sou obrigada a lembrar de Rousseau que colocava que “o avanço da civilização provocou o retrocesso moral do homem”. Nesse mundo dinâmico em que vivemos, não podemos pensar em ética e moral como coisas estáticas, pois as mudanças constantes que vem acontecendo em todos os segmentos de nossas vidas, nos obrigam a rever nossos conceitos, nossos julgamentos.

    Entretanto, o preocupante é a falta de ética que as pessoas têm para consigo mesmo. Não se valorizam, não se respeitam, se violentam, se agridem, desenvolvem um falso self que atenda as demandas que a sociedade lhes exigem. Não percebem que se trata de uma sociedade perversa, que cada vez cobra mais do humano, sem nada lhe dar em troca.

    Por não verem ou não quererem ver, as pessoas acabam se deixando levar, tendo que criar simulacros para se sentirem inseridas em determinados grupos. Só que chega um momento, que em que são obrigadas a se defrontarem com a sua realidade e aí sofrem.

    Sofrem por ver que não estabeleceram relações sólidas, que muitas vezes foram apenas um objeto de uso para o outro. Que tudo o que criaram, não está de acordo com a sua realidade. A dor de estar só pesa, porque percebem que além de estar só, já não sabe mais quem realmente são. Muitos têm a sensação de estarem vivendo um pesadelo e acreditam que podem retomar a situação anterior.

    Mendiga pela atenção, o carinho, o amor do outro, mas, no entanto, não conseguem se amar. Procuram no externo, algo que possa justificar o que está acontecendo. Tentam encontrar desculpas que lhe permitam continuar se enganando, não percebendo que isso só aumentará o seu sofrimento.

    E no meio de tanto sofrimento e dor, as pessoas não conseguem se dar conta que não estão sendo éticas com elas. Até porque já esqueceram o que é ser ético.

   Tudo isso que vemos no nosso dia-a-dia é o resultado do mundo capitalista em que vivemos, onde o ter passou a ser o centro de tudo. As pessoas não têm mais valor pelo que são, mas sim pelo que tem. Os relacionamentos se firmam em cima de interesses e não de sentimentos.

   Isso nos leva a pensar na teoria do neolítico moral, onde a ética não acompanha o avanço científico, tecnológico e material do homem.

    Penso que talvez consigamos reverter essa situação, esse sofrimento emocional e psicológico que as pessoas vivem, se nos ativermos mais a alguns conceitos éticos e morais e não nos permitirmos sermos tratados como uma simples mercadoria. Não é o dinheiro, o status que estabelece as nossas virtudes, mas os nossos valores, a nossa postura ética, principalmente a que temos para conosco.

     Para encerrar, deixarei uma das máximas de Sócrates, a fim de convidá-los a repensar a sua postura para com você e para com os outros; “a virtude não é dada pelo dinheiro e todos os outros bens do homem, tanto público como privados”.