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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A FACILIDADE DE ROTULAR

            
            É incrível como cada vez mais necessitamos rotular os outros. Isso só demonstra a dificuldade que temos de nos olhar e ao mesmo tempo a nossa onipotência, pois nos julgamos suficientemente capazes de definirmos o outro, sem mesmo convivermos muito com ele ou nem convivermos. Julgamos pela aparência, sem tentar compreender o que está por trás dessa aparência.

            Enquanto acreditamos que temos essa capacidade e nos apropriamos dela, não percebemos que depositamos no outro aquilo que é nosso. É aquela velha história da projeção, o outro sempre é o problema, enquanto eu funciono com equilíbrio e sensatez.

            Rotulamos o pobre, a prostituta, o drogado, o assaltante, o morador de rua, o homossexual, esquecendo que por trás de cada ser existe uma história e que na maioria das vezes, essas pessoas são o produto dessa história. Mas não são esses apenas os rotulados. Também esta na nossa mira os políticos, os magistrados, os promotores, os médicos, os psicólogos, o profissional da saúde em geral, os bem sucedidos, os ricos. Encontramos, para cada um, rótulos diferentes.

            Penso que essa necessidade que o humano tem de rotular, está muito atrelada a sua neurose, a qual procura negá-la, pois percebe o mundo como algo muito agressivo, pesado demais para dar conta e por isso não suporta viver a sua realidade, mentindo para si mesmo e colocando no outro algo que na maioria das vezes é seu.

            Rótulos não servem para nada, a não ser para satisfazer e gerar prazer em quem o dá. Ao percebermos a dificuldade do outro, ao invés de rotular, quem sabe procura-se ajudá-lo, convidando-o a pensar sobre a forma que teria para melhorar a sua situação ou a sua maneira de funcionar.

            A facilidade de rotular para muitos é algo fantástico de observar, principalmente quando se trata de dar diagnósticos na área da saúde mental. Fico chocada com isso, pois levamos no mínimo oito encontros para fechar a hipótese diagnóstica, quando não for criança, ao passo que as pessoas sentam em nossa frente e nos dão o diagnóstico. Fico com pena dos médicos, pois assim como nós, são tachados de insensíveis, frios, entre tantos outros predicados, por lidarem com a doença do outro sem sofrer.  Penso, como as pessoas sabem o sentimento que vivemos. É a famosa leitura de sentimentos, que os onipotentes conseguem fazer, mas se observarmos vemos a dificuldade que essas pessoas tem de lidar e cuidar dos seus doentes.

            Portanto, antes de rotular qualquer pessoa, seria interessante que déssemos uma parada e uma analisada em nós, para vermos se realmente temos condições de rotular alguém.



           



                       

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