Total de visualizações de página

domingo, 9 de março de 2014

Em nome do amor, não se deixe manipular

      Por trabalhar direto com pessoas, estou sempre atenta ao comportamento do ser humano e me chama atenção àquelas pessoas que sem perceberem estão sempre se colocando para baixo. Falam mal de si, se desqualificam, acreditam que ninguém olha para elas, se desfazem, não se valorizam e parece que sentem prazer quando encontram pessoas que reforçam esta visão que tem de si. Geralmente, são pessoas tristes, enfadonhas, deprimidas, que alimentam a crença de que não são merecedores de coisas boas, que passam grande parte do seu dia pensando na dor que toma conta de sua alma, por se enxergar tão ruim. Sente-se culpado por tudo e se alguém tentar lhe mostrar que não é bem assim como pensa, na tentativa de aliviar sua culpa, não aceita, justificando com algo ainda pior. São as famosas pessoas que gostam de se chicotear.

     Outro dia, em uma das minhas idas a um café, em um intervalo de consultório, fiquei prestando atenção em um casal que estava sentado a mesa ao meu lado. Como os ânimos estavam meio alterados, dava para escutar a fala dos dois. Ela o desqualificava o tempo todo, tudo o que ele fazia e dizia era errado, mas ao mesmo tempo, dava-lhe várias tarefas para ele fazer, inclusive tarefas domésticas, pois ela não podia, afinal, disse não ter nascido para fazer serviços domésticos. Aqui já comecei a me interessar mais, pois sua fala mostrou que se tratava, provavelmente, de uma emergente e com no mínimo um belo complexo de inferioridade.

     Na medida em que o assunto foi se desenvolvendo, fui ficando animada com a conversa do casal, fui prestando atenção e tomando vários cafés, pois resolvi que não sairia dali sem ver o desfecho da história. Que feio, mas estava aproveitando para estudar o case e torcendo para que se desse rápido o desfecho, pois tinha que voltar para o consultório.

     O rapaz parecia ser uma pessoa boa, mas com sentimento de menos valia muito forte, entre outras coisas. Não conseguia perceber que estava sendo manipulado por uma pessoa com um complexo de inferioridade elevado, a ponto de precisar desqualificar o parceiro, fazendo-o de seu “capacho”, para sentir-se importante. Sabe-se que quando a pessoa está envolvida emocionalmente tem dificuldade de perceber e entender o que está acontecendo em sua vida, por isso, não consegue tomar uma atitude e acaba sofrendo.

     Só existe um manipulador, porque existe alguém que se deixe manipular e isto estava evidente neste casal. Ele aceitava passivamente, tudo o que ela lhe mandava fazer, embora em alguns momentos reagisse.  Na ânsia de mostrar para ela, que ele não era aquela pessoa cheia de defeitos que ela dizia ser, fazia tudo o que ela lhe pedia ou mandava. Com isso, ele reforçava o sentimento de superioridade que ela tinha em relação a ele, pois o tratava como se fosse um Zé Mané e ele aceitava este papel que ela lhe deu.

      Este jovem não conseguia perceber o jogo que ela fazia para que ele se sentisse culpado e fizesse tudo o que ela quisesse. Não conseguia ver os ganhos que ela tinha, cada vez que lhe apontava seus erros e o desqualificava. Obviamente que ele precisa de uma pessoa assim para reforçar a sua crença de não merecedor, de incompetente e outras que deve ter e que precisam ser reforçadas para não correr o risco de livrar-se delas, acabar com a sua relação e ser feliz.

    O pior é que nestes casos, muitas vezes, o casal se separa fisicamente, mas emocionalmente não conseguem se separar e ficam sempre girando um em torno do outro, atendendo as suas demandas e desenvolvendo um processo de retroalimentação de suas crenças.

      O ideal seria que pessoas que tem este tipo de comportamento e de relacionamento buscassem ajuda, para poder romper com este ciclo e poderem perceber quem realmente são sem ter este reforço negativo constante em sua vida. Porque errar, falhar, ter momentos de insucesso, de fraquezas são coisas normais da vida do humano, o que não dá é para ficar convivendo com alguém nos apontando isto como se fosse algo somente nosso, pois a culpa pega e faz um belo estrago.

      Ah! Ia me esquecendo de contar que o rapaz acatou todas as ordens de sua amada e mesmo saindo meio irritado, foram embora bem abraçados. Vá entender!




Este texto está publicado no site http://anissis.com.br


            

Nenhum comentário:

Postar um comentário