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domingo, 28 de agosto de 2011

AUTOCONHECIMENTO

       As pessoas estão muito preocupadas em viver o aqui e o agora, como se não houvesse um ontem em suas vidas e muito menos o amanhã. Agem impulsivamente, não toleram quando as coisas não acontecem no tempo que determinam. Projetam de forma pueril, para o externo, a culpa do que não deu certo em suas vidas, pois não conseguem assumir a responsabilidade que tem em relação à mesma.

       Procuram manipular o ambiente em que vivem, pois assim, acreditam conseguir alterar hábitos e propensões do mesmo. Com isso aprendem a viver numa mentira crassa, acreditando, como dizia Machado de Assis, que a mentira muitas vezes é tão involuntária quanto à transpiração. Acreditar nisso é uma bela forma de não sofrer ao mentir. Afinal se ela é involuntária, foge do seu controle. Consequentemente, não é culpado.

      Levam uma vida de enganos e isso pode ser facilmente visível, pois as pessoas não querem mais aceitar as marcas que a própria vida, vai deixando, com o passar dos anos. Desde muito cedo começam a usar silicone, botox, colocam fio de ouro, fazem preenchimento e utilizam tantos outros métodos mais invasivos, como se fosse possível enganar o tempo. Isso demonstra o quanto o ser humano está preocupado só com o externo, com a aparência, com a beleza efêmera, com o status, esquecendo que a maior riqueza que existe é o seu interior.

     Entretanto, percebe-se que as pessoas parecem estar ocas, pois não conseguem estabelecer um diálogo mais profundo, por não terem argumentos que lhes dê sustentabilidade para defender seu ponto de vista. Não conseguem perceber e muito menos falar sobre si. Isso está muito relacionado à falta de leitura e o fato de não terem o hábito de pensar. Chegam a verbalizar o desejo de não pensar sobre determinados assuntos, principalmente sobre aqueles que estão relacionados a sua pessoa. Preferem viver e conviver com o seu falso eu, assim sente-se mais felizes.

    Confesso que fico chocada e até muito frustrada quando escuto isso de alguns pacientes. Questiono como querem fazer terapia sem pensar, procuro ver se isso é possível, mas obviamente que não. Sempre deixo claro ao paciente que o processo terapêutico é algo dolorido, pois é inviável não pensar sobre a forma como conduz sua vida, sem questionar quem realmente é, e sem entender porque tem determinadas atitudes. Esse pensar faz com que vejamos o quanto nos maltratamos e isso é muito dolorido, mas essa é a única maneira que temos para melhorarmos como pessoa. Caso contrário, viveremos num processo de auto-engano constante.

    A pessoa que conhece a si mesmo sabe de seus próprios limites, por isso não exorbita de sua capacidade. Consegue desenvolver o hábito de analisar e identificar seus próprios sentimentos e desejos, verificando se não está se deixando envolver por algo exagerado, que poderá vir a lhe acarretar um sofrimento psíquico futuramente. Porém, não é muito comum encontrar pessoas que funcionem dessa maneira. O que vemos em nossa sociedade, são pessoas que não sabe quem realmente são e por isso acabam cometendo exageros.

    Devido o autodesconhecimento, as pessoas se percebem de forma inflamda, se supervalorizam, tentam se mostrar de uma maneira que não condiz com a sua realidade. Não se dão conta que agir dessa forma, é romper com realidade interna. Procuram estabelecer comparações com outros, sem examinarem de forma real o que existe de comum entre ela e o outro. Assim, deixam transparecer claramente o sentimento de inveja, mas não se permitem reconhecer e aceitar isso, por julgarem um sentimento muito pequeno e que não condiz com a sua pessoa. Afinal, se percebem de forma muito superior.

    O desejo ardente de conseguir algo, a certeza inexpugnável que o movimenta, não permite que veja a sua limitação, até onde pode ir, sem causar nenhum prejuízo ao outro. Esse desejo desenfreado de conquistar algo lembra o que o filósofo Demócrito dizia “desejar violentamente uma coisa, é tornar-se cego para as demais. Por vezes, as pessoas ficam com um pensamento obsessivo em relação a algo e não consegue enxergar as outras oportunidades que a vida lhes oferece.

    É importante estar aberto para vida, prestando atenção nos sinais que ela nos dá. Para tanto, é necessário que a pessoa se autoconheça, pois assim, conseguirá decodificar a simbologia que a vida lhe dá. Através desse processo, encontrará o equilíbrio e o entusiasmo para ir ao encontro de suas ambições, sem frustrações, pois saberá reconhecer o seu limite.

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