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terça-feira, 9 de julho de 2013

A CURA GAY

  Nos últimos dias muito tem se lido e falado sobre esse projeto absurdo proposto pelo deputado Marco Feliciano, infelizmente, na minha percepção, ele só assinou o seu atestado de falta de inteligência, porque entrou numa área que não domina. Todos nós somos ignaros em várias coisas e temos que ter a humildade de reconhecer isso e ficarmos quietos ou irmos atrás do conhecimento, para depois podermos opinar.

 O seu entendimento está atrelado às questões religiosas, pois alguns evangélicos, ainda fazem uma leitura fundamentalista dos textos bíblicos, o que hoje se sabe, não ser mais possíveis. Ler de forma literal e acrítica os textos bíblicos, nos dias de hoje, é um tanto temerário, pois sabemos que na história da literatura universal, na medida em que o tempo vai passando a interpretação dos fatos vai se modificando. Sendo assim, precisamos reconhecer a necessidade de uma nova forma de interpretar e compreender os textos sagrados. Apesar de ter conhecimento e formação para aprofundar esse assunto, não é esse o meu foco aqui, mas sim mostrar, por meio de uma carta escrita por Freud, à mãe de um homossexual, que já em seu tempo a homossexualidade não era percebida como doença e, portanto, não cabe cura. A cura só cabe frente a uma doença e vamos combinar que não dá para querer estabelecer um comparativo entre o conhecimento de Freud com o do deputado Marco Feliciano, seria covardia.

  Penso ser importante, antes de transcrever literalmente a carta de Freud,  destacar, que a homossexualidade deve ser compreendida como uma síndrome, visto as causas etiológicas serem diversas, podendo manifestar-se por meio de uma mesma manifestação sintomática aparente.

  Vejam a carta escrita por Sigmundo Freud, Viena IX, 19/09/1935.

Prezada Senhora,

            Deduzo de sua carta, que seu filho é homossexual. Impressiona-me muito o fato de a senhora não mencionar esta palavra na sua informação sobre ele. Posso perguntar por que a evita? O homossexualismo sem dúvida não é vantagem, mas não é nada do que alguém deve envergonhar-se, nenhum vício, nenhuma degradação, não pode ser classificado como doença; consideramo-lo uma variação da função sexual, produzida por certa parada no desenvolvimento sexual. Muitos homens respeitabilíssimos da Antiguidade e dos tempos modernos foram homossexuais, entre eles vários dos maiores homens (Platão, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, etc.). É uma grave injustiça perseguir o homossexualismo como um crime – e também uma crueldade. Se não me crê, leia os livros de Havelock Ellis.
            Ao perguntar-me se eu posso ajudar a senhora quer dizer, suponho eu, se posso acabar com a homossexualidade. A resposta é de que de um modo geral não podemos prometer alcançar esse resultado. Em alguns casos conseguimos desenvolver os germes gorados das tendências heterossexuais que estão presentes em todo homossexual, porém na maioria dos casos isto já não é possível. É uma questão da qualidade e da idade do indivíduo. O resultado do tratamento não pode ser previsto.
            O que a análise pode fazer pelo seu filho tem um sentido diferente. Se ele é infeliz, neurótico, dilacerado por conflito, inibido em sua vida social, a análise pode trazer-lhe harmonia, paz de espírito, plena eficiência, quer permaneça homossexual, quer se transforme.
            Se a senhora decidir que ele faça análise comigo – o que não creio – ele terá que vir a Viena. Não tenho nenhuma intenção de sair daqui. Entretanto, não deixe de dar-me sua resposta.
                          Cordialmente, e com melhores votos, Freud.
                



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