Cada vez mais tem se percebido a
dificuldade que as pessoas estão encontrando de olhar para si e nem se dão
conta disso, porque projetam a causa de todas as suas dificuldades para o externo.
O outro é o responsável por tudo o que lhe aflige.
Isto
pode estar relacionado à dificuldade, que hoje existe, de as pessoas
conseguirem olhar para o outro e, no entanto, sabe-se que é através do outro
que nos reconhecemos.
Winnicott, clarifica isto muito bem, em um de seus
artigos, onde propõe o
reposicionamento da noção de "espelho" que Lacan tinha em mente, como
um espelho concreto, de vidro, produzindo uma imagem que serve à criança de
representação visual de si. Em sua teoria, por meio deste, a criança vislumbraria
a imagem de unidade de um corpo ainda vivido como despedaçado e não articulado.
Entretanto, Winnicott descarta a imagem ótica de um espelho concreto proposta
por Lacan, considerando que o reconhecimento da criança enquanto ser ocorre
através do rosto humano: o rosto materno. Por isso, é que se incentiva o olhar
da mãe para o filho, principalmente na hora da amamentação, para que haja um
reconhecimento autêntico e não uma méconnaissance (desconhecimento
ou falso conhecimento) como Lacan propunha em sua teoria do espelho,
manifestado pelo rosto materno e pela adaptação às necessidades do lactante.
Com isso, se dá o reconhecimento de si, a partir da concretude da presença
somática da mãe.
Partindo da teoria de Winnicott,
podemos pensar que no mundo atual esse processo, provavelmente, não venha se
desenvolvendo adequadamente na relação mãe-bebê, em função da correria do dia a
dia ou até mesmo pela falta de conhecimento que as pessoas têm e por isso,
talvez, a dificuldade que se identifica nelas de conseguirem olhar para si, de
entrarem em contato com o seu verdadeiro eu. É provável que as pessoas não
estejam conseguindo se reconhecer, porque na verdade não se conhecem. O que
conhecem é um vazio interno, que tentam preencher através do trabalho, do
consumismo, da alimentação excessiva, do uso abusivo de drogas lícitas e
ilícitas, sem se darem conta que isso não as levará a nada, a não ser a um
processo destrutivo.
A partir do momento que o humano
conseguir sintonizar consigo mesmo, tendo claro que o seu reconhecimento se dá
sempre a partir do outro, viverá uma vida mais plena em todos os sentidos e com
certeza, conseguirá ir ao encontro da felicidade que tanto busca de forma errônea.
Excelente texto. Incrível que com palavras tão simples foi possível definir o maior problema da humanidade (sem querer exagerar): o desinteresse em si mesmo e essa "síndrome da pressa". Triste, embora reversível. Eu acredito.
ResponderExcluirTambém acredito que esse problema seja reversível, ao menos, espero. abraço
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