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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A DIFICULDADE DE OLHAR PARA SI

 Cada vez mais tem se percebido a dificuldade que as pessoas estão encontrando de olhar para si e nem se dão conta disso, porque projetam a causa de todas as suas dificuldades para o externo. O outro é o responsável por tudo o que lhe aflige.

  Isto pode estar relacionado à dificuldade, que hoje existe, de as pessoas conseguirem olhar para o outro e, no entanto, sabe-se que é através do outro que nos reconhecemos.

  Winnicott, clarifica isto muito bem, em um de seus artigos, onde propõe o reposicionamento da noção de "espelho" que Lacan tinha em mente, como um espelho concreto, de vidro, produzindo uma imagem que serve à criança de representação visual de si. Em sua teoria, por meio deste, a criança vislumbraria a imagem de unidade de um corpo ainda vivido como despedaçado e não articulado. Entretanto, Winnicott descarta a imagem ótica de um espelho concreto proposta por Lacan, considerando que o reconhecimento da criança enquanto ser ocorre através do rosto humano: o rosto materno. Por isso, é que se incentiva o olhar da mãe para o filho, principalmente na hora da amamentação, para que haja um reconhecimento autêntico e não uma méconnaissance (desconhecimento ou falso conhecimento) como Lacan propunha em sua teoria do espelho, manifestado pelo rosto materno e pela adaptação às necessidades do lactante. Com isso, se dá o reconhecimento de si, a partir da concretude da presença somática da mãe.

  Partindo da teoria de Winnicott, podemos pensar que no mundo atual esse processo, provavelmente, não venha se desenvolvendo adequadamente na relação mãe-bebê, em função da correria do dia a dia ou até mesmo pela falta de conhecimento que as pessoas têm e por isso, talvez, a dificuldade que se identifica nelas de conseguirem olhar para si, de entrarem em contato com o seu verdadeiro eu. É provável que as pessoas não estejam conseguindo se reconhecer, porque na verdade não se conhecem. O que conhecem é um vazio interno, que tentam preencher através do trabalho, do consumismo, da alimentação excessiva, do uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas, sem se darem conta que isso não as levará a nada, a não ser a um processo destrutivo.


  A partir do momento que o humano conseguir sintonizar consigo mesmo, tendo claro que o seu reconhecimento se dá sempre a partir do outro, viverá uma vida mais plena em todos os sentidos e com certeza, conseguirá ir ao encontro da felicidade que tanto busca de forma errônea.

2 comentários:

  1. Excelente texto. Incrível que com palavras tão simples foi possível definir o maior problema da humanidade (sem querer exagerar): o desinteresse em si mesmo e essa "síndrome da pressa". Triste, embora reversível. Eu acredito.

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  2. Também acredito que esse problema seja reversível, ao menos, espero. abraço

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