É incrível como cada vez mais necessitamos rotular os
outros. Isso só demonstra a dificuldade que temos de nos olhar e ao mesmo tempo
a nossa onipotência, pois nos julgamos suficientemente capazes de definirmos o
outro, sem mesmo convivermos muito com ele ou nem convivermos. Julgamos pela
aparência, sem tentar compreender o que está por trás dessa aparência.
Enquanto acreditamos que temos essa capacidade e nos
apropriamos dela, não percebemos que depositamos no outro aquilo que é nosso. É
aquela velha história da projeção, o outro sempre é o problema, enquanto eu
funciono com equilíbrio e sensatez.
Rotulamos o pobre, a prostituta, o drogado, o assaltante,
o morador de rua, o homossexual, esquecendo que por trás de cada ser existe uma
história e que na maioria das vezes, essas pessoas são o produto dessa
história. Mas não são esses apenas os rotulados. Também esta na nossa mira os
políticos, os magistrados, os promotores, os médicos, os psicólogos, o
profissional da saúde em geral, os bem sucedidos, os ricos. Encontramos, para
cada um, rótulos diferentes.
Penso que essa necessidade que o humano tem de rotular, está
muito atrelada a sua neurose, a qual procura negá-la, pois percebe o mundo como
algo muito agressivo, pesado demais para dar conta e por isso não suporta viver
a sua realidade, mentindo para si mesmo e colocando no outro algo que na
maioria das vezes é seu.
Rótulos não servem para nada, a não ser para satisfazer e
gerar prazer em quem o dá. Ao percebermos a dificuldade do outro, ao invés de
rotular, quem sabe procura-se ajudá-lo, convidando-o a pensar sobre a forma que
teria para melhorar a sua situação ou a sua maneira de funcionar.
A facilidade de rotular para muitos é algo fantástico de
observar, principalmente quando se trata de dar diagnósticos na área da saúde
mental. Fico chocada com isso, pois levamos no mínimo oito encontros para
fechar a hipótese diagnóstica, quando não for criança, ao passo que as pessoas
sentam em nossa frente e nos dão o diagnóstico. Fico com pena dos médicos, pois
assim como nós, são tachados de insensíveis, frios, entre tantos outros
predicados, por lidarem com a doença do outro sem sofrer. Penso, como
as pessoas sabem o sentimento que vivemos. É a famosa leitura de sentimentos,
que os onipotentes conseguem fazer, mas se observarmos vemos a dificuldade que
essas pessoas tem de lidar e cuidar dos seus doentes.
Portanto, antes de rotular qualquer pessoa, seria
interessante que déssemos uma parada e uma analisada em nós, para vermos se
realmente temos condições de rotular alguém.
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