Outro dia precisava me deslocar para um determinado local e resolvi pegar
um ônibus. Ao mesmo tempo em que se tornou uma situação ansiogênica, foi
interessante, pois deu para observar que as pessoas resolveram tornar suas
vidas públicas.
Ao entrar no ônibus pensei que algo estranho tinha acontecido, pois as
pessoas estavam agitadas e falavam alto, mas na medida em que o tempo foi
passando e fui me familiarizando com a situação, percebi que elas apenas
conversavam. Algumas falavam com a pessoa que estava ao seu lado e outros
falavam no celular.
Um senhor conversava com a cobradora e com o motorista, prometia lhe dar
umas botas que havia comprado para outro motorista, só que esse não trabalhava
mais na empresa. Resolveu, então, que o presenteado seria o atual. A senhora
que estava sentada ao meu lado, conversava no celular com uma colega e se queixava
da sua atual patroa. Quando desligou e que senti um alivio, ela ligou para o
filho. Esse tinha que fazer um trabalho para escola e não conseguia baixar um
filme, porque a internet não estava funcionando. Já havia ligado
para o tal de Fernando que trabalha de segurança, mas ele não lhe atendeu,
pois segundo essa senhora, ele deveria estar dormindo, visto trabalhar a noite.
Na minha frente, tinha uma senhora que estava com dificuldades financeiras e
precisava tomar dinheiro emprestado. Conversava, não sei com quem, mas dizia
para que pegasse emprestado com uma determinada pessoa, pois o juro era menor
que no banco. Fiquei imaginando, se ela tiver dificuldade para pagar, não corre
o risco de ir para o SPC e SERASA. A minha direita tinha um jovem que resolveu
ter uma DR (discutir a relação) com a namorada, dentro do ônibus.
No meio de toda essa confusão, comecei a ter uma crise de ansiedade, até
que me dei conta que nada daquilo me pertencia. Por isso, o melhor que tinha a
fazer era observar o comportamento das pessoas e refletir sobre ele, talvez
assim, a minha ansiedade passasse.
Esse cenário me levou a imaginar como seria os navios que transportavam
os loucos, no século XVII para as cidades portuárias, que Foucault se reporta
em seu livro “A história da loucura”. Provavelmente, não deveria ser muito
diferente da “muvuca” que havia se estabelecido no ônibus.
Percebi que as pessoas perderam a noção do que é privacidade e pior, não
tem mais noção de educação, porque em nenhum momento se preocuparam em saber se
os outros que compartilhavam o mesmo espaço estavam interessadas em
ficar a par dos seus problemas. O individualismo ficou evidenciado, assim como a falta
de critica, porque não se apercebem o quanto estão se expondo no meio de
pessoas que não sabem quem são. Creio que o objetivo delas, na realidade, é se
fazer notar.
Pensar que possam estar importunado, é
algo que não lhes passa pela cabeça.
Ao descer do ônibus fiquei pensando no nível de ansiedade daquelas pessoas. Não conseguem fazer um percurso quietas,
apreciando a paisagem ou pensando sobre as suas vidas. Fiquei a questionar como
será a vida delas com a família, no trabalho, nas relações com os amigos. Provavelmente,
devem perturbar todos que estão à volta, ou, eles funcionam na mesma frequência.
Agora, o que não pode ser esquecido é que existem regras básicas de
educação para uso de celular e para se comportar em locais públicos. Disso não podemos abrir mão.