Penso ser importante clarificar que a expressão “assassinato
da alma” é usada como uma forma dramática de assinalar vivências esmagadoras
reais que acontecem no desenvolvimento de uma criança. Reporta-se a uma
determinada categoria de experiências traumáticas, como a superestimulação
repetida e crônica, interpondo com privação emocional que são resolutamente
infligidas por outro indivíduo.
Na infância, a privação emocional somada aos maus tratos
desencadeia efeitos profundos e duradouros, causando prejuízos e mudanças
estruturais que irão interferir nos aspectos emocionais e intelectuais,
modificando as fantasias primitivas que estimulam o comportamento humano.
É impossível querer desvincular o assassinato da alma a
desumanidade do humano para com o humano. Pode-se dizer que se trata de um
crime, onde o humano vale-se do seu poder sobre o outro para aniquilar sua
individualidade, sua dignidade, sua capacidade de sentir alegria, amor,
felicidade, raiva, ódio, pois o priva de usar sua capacidade de pensar
racionalmente, de usar sua mente, deixando-o apático frente às situações,
provocando a destruição total ou parcial do aparelho psíquico que está em
desenvolvimento ou desenvolvido, pois o assassinato da alma pode ocorrer também
na idade adulta, claro que quanto mais cedo ocorrer o trauma, maiores são os
prejuízos.
Infelizmente, nos tempos atuais, identifica-se o
assassinato da alma na vida adulta, em função das relações estabelecidas e isso
pode ser identificado, com freqüência, junto às vítimas de violência doméstica.
Essas, na maioria das vezes, são tão massacradas que não conseguem registrar o
que o agressor lhes disse ou fez e acabam se sentido culpadas por terem levado o
malfeitor agir daquela forma. Esse bloqueio do não registro da agressão é
fundamental para o assassinato da alma.
O mesmo se dá com crianças vítimas de maus tratos, na maioria das
vezes, causados pelos próprios genitores. Elas têm a necessidade de romper com
a dor que sentem ao sofrerem a agressão, pois precisarão se voltar a eles. Sendo
assim, utilizam-se do mecanismo de negação, a fim de enxergar aquele pai ou mãe
como bom, pois é dessa forma que conseguirão lidar com os sentimentos
aterrorizadores de raiva e ódio que tem por eles. Temem que esses sentimentos
possam vir a destruí-los.
Manter a imagem de pais maus não só contribui para aniquilação da sua identidade,
mas também para destruição dos sentimentos do ego e por isso, a necessidade de
transformar o registro dos pais maus em um registro de pais bons. É dessa
forma, que ocorre uma cisão na mente da criança, a fim de poder sobreviver,
mantendo em algum canto da mente a ilusão de que todo o mau sofrido, em algum
momento, poderá se transformar em amor, alimentando a ilusão de pais bons e
continentes.
As pessoas que provocam o assassinato da alma nos outros,
provavelmente foram maltratadas na sua infância, mantendo esse registro vivo em
seu inconsciente, levando-os a repetir em suas relações. Essa repetição se dá
pela identificação existente entre o agressor e a antiga vítima, que estão
relacionadas ao processo de cisão que a criança faz, para proteger sua
estrutura psíquica, do jeito que consegue.
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