Tenho percebido cada vez mais a dificuldade que as
pessoas têm de receber e dar carinho, no entanto é algo que nós humanos
precisamos, para nos sentirmos amados, valorizados e reconhecidos.
A dificuldade não está só em receber ou dar carinho, mas
de verbalizar o que sente pelo outro, pois desconhece e teme a reação que ele
possa ter. Além de se frustrar com isso, cria várias hipóteses, todas
negativas, para justificar a sua falta de coragem de expressar o seu afeto. Com
isso, acaba se fechando, sofrendo, sentindo-se carente, deprimindo porque não tem
as suas necessidades afetivas preenchidas, visto sofrer um bloqueio emocional
que não lhe permite se aproximar dos outros como gostaria. Essa dificuldade
pode estar associada às experiências vividas com a família no início de sua
vida. Às vezes pais muito rígidos, que não conseguiam transmitir afeto ou
repreendiam a criança quando ela se mostrava afetiva, sem perceber o prejuízo
que causavam na sua vida psíquica.
Lembro que antigamente, quando alguém elogiava uma criança,
os pais logo tratavam de dizer que era uma gentileza, estava dizendo aquilo porque
era uma pessoa educada e queria agradar. Sem falar, que aceitar elogio era percebido
como falta de modéstia e vaidade. Se a criança na sua inocência tentava se
aproximar de alguém e expressar um carinho, era advertida para não ficar
incomodando ou se oferecendo. Isso quando não lhe diziam “deixa de ser chata”,
“ninguém gosta de uma criança grudenta”, “tu és muito saliente”, etc. Essas
falas eram introjetadas no inconsciente da criança, fazendo com que ela se
percebesse como um objeto ruim e desenvolvesse a crença de que não era merecedora
de dar e nem de receber carinho. Que os elogios dados a sua pessoa nunca eram verdadeiros,
afinal quem elogiaria um objeto ruim? Portanto, se tratava apenas de um gesto
de generosidade do outro. Aproximar-se de alguém era sinônimo de chatice e
expressar o que sentia em termos de afeto tinha uma conotação negativa. Essas informações passaram a ser vividas como
verdades absolutas, por se tratarem de crenças.
As crenças são responsáveis pela formação das distorções cognitivas, levando
a pessoa a ter pensamentos automáticos que influenciam diretamente nas
respostas emocionais, comportamentais e fisiológicas. Na maioria das vezes, a
pessoa não tem consciência desses pensamentos automáticos que, normalmente, são
negativos.
As pessoas que vivem a dificuldade de expressar afeto têm
a tendência de se isolarem, ficando dentro do seu casulo, podendo inclusive a
vir desenvolver uma fobia social, pois temem as críticas que podem sofrer. Não conseguem
associar essas suas dificuldades com as coisas que lhe foram ditas na infância.
Acreditam até hoje na fala de seus pais, são capazes de repetirem, sem se dar conta.
Não percebem que essa não era uma verdade absoluta, mas sim a verdade deles, da
forma como percebiam as coisas a partir das experiências que tiveram no decorrer
de sua vida. Sendo assim, não precisam ficar repetindo esse padrão de
funcionamento, pois era deles, podem mudar a maneira de pensar, expressar os
seus sentimentos, receber e dar carinho e não ficarem desconcertados quando
receberem um elogio.
Claro que essa mudança é um processo a ser construído, a
pessoa precisa primeiramente identificar o que a leva ter essa dificuldade,
para depois poder começar a fazer o exercício de elogiar as pessoas, verbalizar
o que sente por elas, de se permitir tocar no outro, dando-lhe um abraço,
fazendo um afago e se deixando tocar. Inicialmente não é fácil, parece ser uma
coisa quase impossível, chegando a dar vontade de desistir. Na medida em que vai se familiarizando, passa
a gostar e todos aquelas crenças que lhe levava a ter vários pensamentos
disfuncionais vai se desfazendo. A pessoa passa a ver a troca de carinho e de
sentimentos como algo natural em sua vida. A partir daí, a única coisa que tem
a fazer é se permitir viver essa situação e desfrutar os benefícios que ela lhe
oferece.
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