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terça-feira, 1 de março de 2011

CRIANDO PROBLEMAS

        Faz algum tempo que tenho observado o comportamento das pessoas em relação a problemas. Não sei se porque sou preparada para ajudar as pessoas a encontrarem soluções para os seus problemas, me chama a atenção que ao invés de buscarem soluções, elas criam problemas onde não existe.

         Isso hoje é muito fácil de ver quando se fala com as pessoas. Basta perguntar se estão bem, para que comecem a falar dos seus problemas. Tem pessoas que estão tão sufocadas, que não se precisa nem falar, basta um olhar e elas começam a contar todas as suas aflições. Vejo isso na rua, no consultório e com as pessoas que prestam serviço para mim.

        Outro dia chamei uma pessoa para fazer um conserto no meu apartamento. Quando lhe apresentei o problema, pensei que ele iria logo me dar à solução. Doce ilusão, uma coisa simples se tornou um problemão. Até que lá pelas tantas, fui obrigada a dizer que o problema eu já tinha e por isso o havia chamado para resolver, que estava esperando a solução.

        Já faz alguns anos que essa pessoa trabalha para mim, conheço bem a sua forma de funcionar, por isso não me estresso. Tudo para ele é um problema, tudo é difícil, sem falar que é hipocondríaco. Às vezes tenho até medo de perguntar como está. Quando estou com pressa, não pergunto, porque sei que vem um rosário de queixas. Ele é o verdadeiro manual de diagnóstico ambulante, mas é uma pessoa confiável, posso deixar a chave da minha casa e sair tranquila. Isso é o que faz com que ele continue trabalhando para mim. É só não dar muito ouvido para as suas queixas e para os problemas que ele diz ter, mas que não existe.

       Como atraio esse tipo de gente para perto de mim, a pessoa que faz os reparos no consultório, não poderia ser muito diferente. Esse é uma figura folclórica, que me faz dar boas gargalhadas. Não pode ser mais atrapalhado do que é. Sempre tem que fazer duas vezes a mesma coisa, porque na primeira sempre erra. O pior é que não consigo ficar braba, acabo rindo. Poderia escrever um livro só com as confusões que já aprontou, mas também é de extrema confiança, por isso, reconsidero.

        Final de semana pedi que pintasse uma porta para mim. Quando foi domingo à noite, me ligou para contestar a cor da tinta que eu tinha comprado. Dizia que a porta era branco-gelo e que eu havia comprado tinta branca. Não adiantava eu dizer que não existe branco-gelo, porque ele afirmava que sim. Até aí não vi um problema maior, mas ele não se conformava como o fato de eu trocar a cor da porta. Até o momento que disse que eu queria a porta branca. Pensei que tivesse entendido, mas acho que não, porque a porta não foi pintada. Não sei se por protesto ou porque está procurando uma tinta branco-gelo.

       Assim como essas duas pessoas, vejo inúmeras outras. Fico com a sensação que não conseguem mais viver sem problemas. Mesmo que eles não existam, elas os percebem, o que mostra um pensamento disfuncional. Essa  é a forma, que onseguem ter um assunto, estabelecer um diálogo.  Se queixam, se lamentam bastante, chamando a atenção das pessoas, demonstrando a sua carência. Não se dão conta que isso faz com que fiquem cada vez mais sozinhos.

       O pior de tudo é que mesmo que se dê a solução, elas não aceitam. Afinal estamos tirando o alimento de suas vidas. Percebo isso no consultório, quando começo a fazer o paciente pensar sobre as alternativas que tem para solucionar as coisas que lhe geram sofrimento, eles resistem e não conseguem pensar. Claro que isso é sintoma e tem que ser tratado, mas penso que seria bem menos sofrido se as pessoas se permitissem ver as coisas com outro olhar. Se procurassem pensar nas possíveis soluções, se exercitassem a solução de problemas que a teoria cognitiva-comportamental nos oferece e que tento trabalhar com alguns pacientes.

       A solução de problemas permite que a pessoa aja com mais assertividade, mas o resultado é frustrante, pois referem não conseguir. O que me levar a questionar quais os ganhos que a pessoa está tendo com os seus problemas.

       Algumas vezes, fico com a sensação que as pessoas gostam de sofrer. Nos dois casos que relatei, são pessoas boas, bons profissionais, mas que estão sempre muito atrapalhados. Se não fosse a confiança que tenho neles, mesmo sabendo que terei que mandar refazer, quando necessário, eu já teria dispensado. Eles acabam se prejudicando, depondo contra eles mesmos, assim, como vários casos que vejo no meu dia-a-dia.

      Lamento, porque sei que são pessoas que tem um sofrimento psíquico intenso e que não conseguem se livrar dele. O bom é que ao menos estão tentando, mas nem todos conseguem.

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