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sexta-feira, 18 de março de 2011

FAZER VALER A LEI MARIA DA PENHA

         No dia 14 próximo passado, a Presidente declarou ao dar uma entrevista para um veículo de comunicação, que durante o seu mandato, a Lei Maria da Penha será cumprida de forma rigorosa. Mostrou-se preocupada com o índice de violência contra as mulheres.

        Cabe lembrar que quando se fala em violência, não se limita apenas a violência física, mas verbal, moral, psicológica, financeira, etc.

       Concordo com a fala da Presidente, quando coloca que é inaceitável este tipo de crime contra a mulher e que todo o profissional da saúde que tomar conhecimento, deverá notificar os órgãos competentes, sob pena de punição administrativa do seu conselho profissional.

       Essa colocação me fez lembrar o tempo que atendia mulheres vítimas de violência numa Instituição. Elas chegavam com muita raiva, chorosas, indignadas, mas não levava 15 dias, muitas delas viam dizer que tinham retirado a queixa na delegacia, por ter voltado para o seu parceiro.

        Lembrei também, de uma senhora que fazia 17 anos que apanhava do marido, com o rabicho do ferro. Quando a encaminhei para defensoria pública, ela começou a arranjar várias desculpas para não ir. Quando questionada sobre seus argumentos, disse-me que se eu quisesse, ela iria.

       Nesses casos, mesmo que fiquemos mexidas com as reações dessas mulheres, é preciso que entendamos que estamos frente a pessoas com uma estrutura de ego muito frágil e comprometida. Que não conseguem reagir frente situações de ameaças, mesmo que tenha vontade, por ter uma baixa estima, não acreditar em si, por acreditar que não conseguirá tocar sua vida sozinha, etc. A violência é algo que as alimentam. É triste dizer isso, mas o atendimento no dia-a-dia nos permite fazer tal inferência.

      São mulheres adoecidas, que tem uma percepção distorcida da realidade. Acreditam no parceiro, apostam nas suas promessas de mudança. Algumas se sentem culpadas e responsáveis pela agressão sofrida, afinal, ele agiu daquela forma, por amá-la, por ciúmes. Precisam acreditar nisso, para se sentirem “importantes”, valorizadas.

       Saliento que isso não ocorre só em pessoas pouco esclarecidas, mas com as esclarecidas também. Certa vez, acompanhei um caso de uma pessoa com formação superior, que apanhava do marido quase todas as semanas. Quando ele saiu de casa, ela passou a se vestir só de preto e branco. Passado algum tempo, perguntei se não gostava de roupas coloridas. O que ela respondeu que sim. Nesse momento, mostrei a ela que as cores de roupa que usava desde a saída do marido de casa, simbolizava o luto. Após trabalharmos isso em algumas sessões, ela conseguiu a voltar usar roupas coloridas.

      Penso que devemos denunciar sempre que vermos cenas de violência contra a mulher, a criança ou idoso. Entretanto, devemos estar preparados paras as frustrações que teremos pela frente. Se a mulher-vítima não estiver preparada para se libertar das agressões que sofre, nem mesmo a Lei Maria da Penha conseguirá afastá-la do agressor. Passada o primeiro momento de raiva, de brabeza, de revolta, elas burlam a Lei e mantém contato com ele, até a próxima agressão.

    Claro que não são todas que tem esse tipo de funcionamento, mas um número expressivo funciona assim, basta olharmos as estatísticas.

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