Ontem fui até o supermercado e transitando lá por dentro,
me deparo com um homem com roupas surradas e sujas, barbudo, unhas cumpridas,
contando as moedas para ver se conseguia comprar um sanduiche. A figura dele me
chamou atenção, pois deveria ter sido, quando mais jovem, um homem bonito, seu
rosto demonstrava isso. Fiquei pensando como deveria ser a sua história, o que
o teria levado a morar na rua. Enquanto fazia as minhas compras, meu pensamento
foi “viajando” em relação aquele homem, várias foram as hipóteses surgidas.
Percebi que algo tinha me batido diferente, mas não conseguia entender o que
era.
Fiz as compras que precisava e sai. Quando dobro a
esquina para seguir o meu caminho, de novo vejo aquele homem, mas agora ajoelhado
na calçada com o sanduiche na mão. Ao retirá-lo da embalagem, o ergueu ao céu e
disse em voz alta: “obrigada Deus por me dar esse baita alimento”, baixou as
mãos e começou a comer.
Claro que quando o vi ajoelhado e erguendo o seu
alimento, diminui o passo para ver o que iria fazer e ao ouvi-lo me emocionei,
pois quantas são as vezes que nos esquecemos de agradecermos o alimento que
comemos. Isso sem falar das outras vezes que reclamamos do que é colocado a
mesa ou que simplesmente dizemos que não queremos comer.
Na medida em que caminhava, ia pensando que naquele homem
mal vestido, sujo, barbudo, existiam princípios que a maioria das pessoas, onde
me incluo, foi deixando de lado, por motivos diversos. Fui caminhando e refletindo
sobre o recado que ele estava dando para as pessoas que ali passavam. Não sei
se alguém estava prestando atenção, provavelmente não, no entanto deveriam, porque
num gesto simples e talvez bobo, para muitos, percebia-se que existia algo
diferente. O que? Não sei! Talvez uma alma grandiosa, que anda perambulando
pelas ruas com a missão de nos ensinar algo, de nos convidar a olhar para
dentro de nós e nos convidar a pensar.
Como já disse anteriormente, não sei se alguém mais se
deteve ao gesto desse cidadão, mas penso que ele conseguiu dar o seu recado do
jeito dele, pois confesso que fiquei tocada.
Poxa! Na sexta-feira vi um programa, na televisão, sobre moradores de rua. Fiquei muito tocada com o que foi apresentado. Pessoas cultas, professor de inglês, alunos de segundo grau, pais de família, vários exemplos de gente, que por um motivo ou outro, saiu da linha, perdeu o rumo. Passei a pensar diferente sobre essas pessoas. Imagina se tivesse visto esse cidadão!
ResponderExcluirEsse teu comentário me fez lembrar uma entrevista que assisti, de um morador de rua, que a encerrou declamando um poema do Fernando Pessoa, de ponta a ponta. Relatou que buscava no lixo, livros, pois gostava muito de ler. Esse foi morar na rua, pois teve que fazer a opção entre a bebida e a família. Dói ouvir essas histórias.
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