Confesso que tem horas que penso que as pessoas perderam
a noção do bom senso, principalmente quando o assunto é celular. Existem regras
básicas de educação e bom senso que devem ser cumpridas sempre, mas percebo que
isso tem sido deixado de lado. Outro dia estava aguardando na sala de espera de
um consultório médico, lendo uma revista, quando três pessoas resolveram ligar
para bater “papo” no celular. Não preciso dizer que cada uma procurava falar
mais alto que a outra, fui obrigada a fechar a revista, porque era impossível
concentrar na leitura, e fiquei observando. Nenhum assunto era importante, que
não pudessem ser falados depois, mas por que estavam então ligando?
Vários podem ser os motivos, como por exemplo: falta de
hábito de ler, ansiedade, necessidade de se mostrar importante, falta de noção,
de educação, de bom senso, pensar que está ocupando o seu tempo, de egoísmo, de
narcisismo, de respeito e consideração com as pessoas que estão a sua volta, entre
muitos outros. Não percebem que a sua fala atrapalha o profissional que está
atendendo na outra sala e que pode incomodar as outras pessoas, que estão ali
dividindo o espaço com elas, e que não tem interesse em saber da sua vida.
O pior ainda é quando tem aqueles que não colocam o
celular no silencioso ou não desligam e atendem quando toca no teatro, no cinema, em
uma repartição, no velório, na Igreja ou templo, na sala de aula, no congresso...
Nesses casos não se trata apenas de esquecimento, de falta de educação ou de
bom senso, precisa-se analisar o que está por trás desse “ato falho”. Podemos
pensar que se trata de uma pessoa com um complexo de inferioridade grande, que
acredita se mostrar importante para os outros, com as chamadas que recebe no
celular. Talvez seja um narcísico que não está preocupado com as pessoas que
estão a sua volta, afinal a pessoa mais importante que tem ali é ele mesmo, portanto,
os outros não interessam. A necessidade de mostrar que é uma pessoa lembrada,
ocupada, ou até mesmo de um exibicionista, que acredita mostrar o seu “poder”
pelo modelo mais atualizado de celular que possui e que não pode ficar
escondido no bolso da calça ou na bolsa, ele precisa ser mostrado, afinal foi
comprado para isso, etc.
Já tive oportunidades de presenciar cenas hilárias de
pessoas falando no celular, que achavam que estavam fazendo o maior grau e não percebiam
o mico que estavam pagando. Uma das muito engraçadas foi na fila do
supermercado, perto do meu consultório, onde atrás de mim tinha uma pessoa
conhecida, que faz questão de me chamar de doutora, mesmo já tendo lhe dito que
não sou doutora, mas faz tudo para chamar minha atenção. Fez que tinha ligado
para alguém e falava em altos brados assuntos relacionados à sua psicóloga, só
que para seu azar, o telefone dele tocou e eu olhei, já rindo, e perguntei,
estavas falando sozinho? Ele com o rosto completamente vermelho, não sabia o
que fazer e acabou optando por sair da fila. Não preciso dizer que ri muito, quem me conhece, sabe que para eu rir, não precisa muita coisa, sem falar que até
hoje a pessoa evita passar por mim, dando-me uma trégua.
Existem situações que são engraçadas, mas têm outras que
são totalmente deselegantes. Numa palestra, numa sala de aula, num templo, num
velório, atender o celular é sinal de total desrespeito com a pessoa que está
presidindo o evento, com a situação e com as pessoas que estão ali.
É incrível, mas não tem um domingo que eu não vá à missa
e que na metade não toque o celular de alguém. Fico pensando, será que precisa
levar o celular para Igreja? Será que hoje para conversar com Deus se precisa
de celular? Não dá para colocar no silencioso
e depois ver quem ligou? Será que se trata de esquecimento ou de desvalorização
com o que está acontecendo ali? Será que vão a Igreja só para cumprir
protocolo? Esses questionamentos são válidos para todos os outros eventos que
envolvem várias pessoas.
Por favor, vamos procurar pensar se não estamos nos
tornando dependentes ou escravos do celular, porque se estivermos, isso é
patologia e precisa ser tratado. Também, vamos procurar colocar no nosso
dia-a-dia o bom senso como um dos temperos da nossa vida, a fim de não sermos
vistos como pessoas deselegantes.
Deixo claro, não sou contra o uso de celular, acho até
necessário, mas na dosagem certa.
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