Outro dia, sentada em um café, presenciei a discussão de
um casal, que ali resolveram que a relação não dava mais e que tinham que se
separar. Fiquei pasma, não acreditei no que estava vendo. Afinal, hoje as
pessoas não têm mais o cuidado de preservar a sua privacidade, pelo contrário,
parecem fazer questão de expor a sua vida para todos.
O casal falava em altos brados, um acusava o outro
veementemente. Buscavam situações ocorridas no tempo do namoro que foram
desagradáveis, discutiam a relação sexual e por aí foram. Eu e alguns outros
clientes éramos bombardeados com aquele monte de insultos, até que aos poucos,
as pessoas foram levantando e saindo. Obviamente que fiz o mesmo, afinal, o meu
objetivo era dar um tempo para minha cabeça, mas vi que tinha escolhido o lugar
errado.
Saí dali pensando, com que direito aquele casal privou a
minha escolha e a de outras pessoas, que ali estavam, de tomar um café, bater
um papo, ler um jornal ou uma revista. Não tinham direito nenhum, mas a falta
de crítica, de bom senso, de egoísmo, de narcisismo deles era tanta, que
deixou-nos acuados, fazendo com que saíssemos, para que ficassem mais à vontade.
Enquanto fazia o caminho de volta para o meu consultório, fui pensando, será
que o término de uma relação sempre tem que ter um culpado? As pessoas não
podem deixar de se amar, gostar ou simplesmente se desencantarem? Por que ficam desencavando coisas lá de mil
novecentos e antigamente para justificar a separação? Por que não separou na
época em que o fato ocorreu? O que as levou se unirem e o que hoje as fazem se
separar? O respeito pelo ser humano onde está? Tantos outros questionamentos
surgiram, mas o que não queria calar é por que os casais quando resolvem
separar precisam primeiramente encontrar um culpado. Tendo esse sido encontrado, precisam achar uma
forma de desmoralizar aquela pessoa, que em algum momento, escolheram para ser
seu marido/esposa. A cumplicidade, o
carinho, os momentos bons que viveram juntos, o que construíram, as dificuldades
que possam ter vivido são esquecidas. Aquela pessoa que até então era
maravilhosa, agora não presta mais, chegando, às vezes, ser percebido como um
monstro.
Sabe-se que dificilmente a separação se dá por um fato isolado. Normalmente, acontece por um
somatório de coisas, mas será que precisa deixar chegar nesse somatório? Não
seria mais fácil conversar sobre cada coisa que vai acontecendo, desagradando
e tentando resolvê-las?
O grande problema dos casais é que as pessoas têm a doce
ilusão que conhecem o outro e com isso, acreditam que sabem o que eles estão pensando,
o que vão dizer se falar alguma coisa, o que querem. Não percebem a sua onipotência e dessa forma, não estabelecem
um diálogo com seu companheiro. Para sabermos o que o
outro pensa, acha, quer, gosta, precisamos perguntar a ele, até mesmo o que ele entendeu sobre a nossa colocação, a fim de evitar qualquer ruído de comunicação. Isso é um princípio básico para qualquer relação, pois nem sempre o receptor da mensagem terá a mesma percepção e entendimento do emissor.
As separações se dão pela falta de diálogo. Afirmo isso,
por ter realizado, há um tempo, uma pesquisa com casais, para escrever um
trabalho sobre “o papel do terapeuta no processo de separação conjugal” e esse
foi o ponto que mais apareceu como causa das separações. Essa falta de diálogo
entre casais é que está contribuindo para o aumento no número de divórcios. E
aí deixo para pensar, por que as pessoas têm medo de falar, de exporem o que
estão pensando e sentindo para os seus parceiros? O que temem?
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