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sábado, 2 de fevereiro de 2013

ROTULAR

            
            Ontem presenciei uma cena que me levou a pensar sobre essa questão de rótulos, pois é fácil dizermos que alguém, que nem conhecemos, é sem-vergonha, mau caráter, vigarista, louco, bipolar que está tão em moda, sem avaliarmos a representação que isso pode ter na vida da pessoa.

            Rotular os outros a partir da nossa percepção, que geralmente se dá de forma empírica, se trata, na maioria das vezes, de uma atitude que tomamos por impulso. Esse é o veículo da emoção que age pelo nosso lado irracional, demonstrando a nossa irresponsabilidade. Afinal, não podemos acreditar que a forma como percebemos as pessoas ou fatos seja uma verdade universal. Precisamos ter claro, que para conhecermos a verdadeira verdade sobre alguém ou algo, precisamos escutar a verdade dos outros.

            Algumas pessoas funcionam basicamente por impulso, alegam ter dificuldade de controlá-lo. O controle de impulsos envolve apenas dois pontos, vontade e caráter, entretanto, observa-se nos tempos atuais que as pessoas não querem se comprometer com nada, nem mesmo com o seu processo de mudança para tornar-se um ser melhor. Fazer o movimento de mudança é algo impossível, primeiro porque não reconhecem a necessidade do mesmo e segundo porque não estão dispostas a ter que prestar atenção na sua forma de funcionar, de pensar e agir, para mudarem.

            Julgam, criticam, colocam rótulos nas pessoas, porque essa é a forma que encontram para falar de si, sem perceberem, pois aquilo que vemos no outro e que nos incomoda, nada mais é, do que os nossos conteúdos internos que não gostamos e que tentamos esconder, mas que acabamos identificando no outro, porque ele é o nosso espelho.

            Rotular alguém pode ser uma forma de defesa que encontramos quando nos sentimos atingidos emocionalmente e por isso, de forma impulsiva, encontramos uma maneira de nos afastarmos da pessoa ou da situação. Lembremos que a palavra emoção tem sua etiologia no latim movere, que significa mover, mas acrescida do prefixo “e” denota afastar-se.

            Por vezes, precisamos criar situações para nos afastarmos, visto não conseguirmos equilibrar emoção e razão, sendo assim, rotular pode ser um dos artifícios usados para que o processo de afastamento possa ser justificado. Controlar o impulso emocional, traduzir os sentimentos mais íntimos de alguém, requer habilidade e isso não são todos os que têm.            

            Em Ética a Nicômaco, Aristóteles refere que “qualquer um pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil”. Talvez isso, possa a nos ajudar entender porque precisamos rotular alguém, quando ele nos atinge emocionalmente. Fica o convite para pensar.

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