Ontem presenciei uma cena que me levou a pensar sobre
essa questão de rótulos, pois é fácil dizermos que alguém, que nem conhecemos,
é sem-vergonha, mau caráter, vigarista, louco, bipolar que está tão em moda,
sem avaliarmos a representação que isso pode ter na vida da pessoa.
Rotular os outros a partir da nossa percepção, que
geralmente se dá de forma empírica, se trata, na maioria das vezes, de uma
atitude que tomamos por impulso. Esse é o veículo da emoção que age pelo nosso
lado irracional, demonstrando a nossa irresponsabilidade. Afinal, não podemos acreditar
que a forma como percebemos as pessoas ou fatos seja uma verdade universal.
Precisamos ter claro, que para conhecermos a verdadeira verdade sobre alguém ou
algo, precisamos escutar a verdade dos outros.
Algumas pessoas funcionam basicamente por impulso, alegam
ter dificuldade de controlá-lo. O controle de impulsos envolve apenas dois
pontos, vontade e caráter, entretanto, observa-se nos tempos atuais que as
pessoas não querem se comprometer com nada, nem mesmo com o seu processo de
mudança para tornar-se um ser melhor. Fazer o movimento de mudança é algo
impossível, primeiro porque não reconhecem a necessidade do mesmo e segundo
porque não estão dispostas a ter que prestar atenção na sua forma de funcionar,
de pensar e agir, para mudarem.
Julgam, criticam, colocam rótulos nas pessoas, porque
essa é a forma que encontram para falar de si, sem perceberem, pois aquilo que
vemos no outro e que nos incomoda, nada mais é, do que os nossos conteúdos internos
que não gostamos e que tentamos esconder, mas que acabamos identificando no
outro, porque ele é o nosso espelho.
Rotular alguém pode ser uma forma de defesa que
encontramos quando nos sentimos atingidos emocionalmente e por isso, de forma
impulsiva, encontramos uma maneira de nos afastarmos da pessoa ou da situação.
Lembremos que a palavra emoção tem sua etiologia no latim movere, que significa mover, mas acrescida do prefixo “e” denota
afastar-se.
Por vezes, precisamos criar situações para nos
afastarmos, visto não conseguirmos equilibrar emoção e razão, sendo assim,
rotular pode ser um dos artifícios usados para que o processo de afastamento
possa ser justificado. Controlar o impulso emocional, traduzir os sentimentos
mais íntimos de alguém, requer habilidade e isso não são todos os que têm.
Em Ética a Nicômaco, Aristóteles refere que “qualquer um
pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida
certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil”. Talvez
isso, possa a nos ajudar entender porque precisamos rotular alguém, quando ele
nos atinge emocionalmente. Fica o convite para pensar.
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