Tem me chamado muito a atenção, o quanto as pessoas estão sofridas. Outro
dia, caminhando, indo para o consultório, passei por uma senhora na rua que
falava ao celular e chorava muito, fato que já deu asas a minha imaginação, ao
mesmo tempo em que fiquei condoída. Logo adiante, um jovem, também ao celular,
dizia: “pô mãe, to na rua desde cedo, era 08h quando sai de casa, o carro tá estragado,
não consegui ainda arrumar, não tenho dinheiro”. Meu pensamento já se deslocou para analisar
essa nova situação, fiquei imaginando, com o meu senso crítico, que para mim 8h
da manhã já não é mais cedo e também se o rapaz não tinha condições financeiras
para arrumar o carro, por que tinha carro? Talvez se não tivesse carro, teria
um problema a menos na vida. Logo em seguida, me deparei com um casal da terceira
idade, em que a esposa dizia para o marido, que no dia seguinte precisavam
levantar cedo para ir ao posto pegar ficha para o médico. Novamente me sensibilizei
com a situação desse casal. A partir de então fui pensando sobre o sofrimento
das pessoas.
Comecei a me questionar o que leva o ser humano criar tantos problemas
para si e depois não conseguir achar uma solução para eles. Talvez possa ser a
falta de uma estrutura familiar sólida, de orientação, de limites, de
oportunidades, de ambição, negligência dos pais, exemplos familiares negativos,
falta de uma crença religiosa, entre tantas outras coisas. Sabe-se que isso tem
uma expressão significativa na vida de qualquer pessoa, mas como temos o livre
arbítrio, podemos na fase adulta do desenvolvimento, escolher o que queremos ou
não para nossa vida. Não precisamos ficar repetindo situações que vivenciamos
na infância ou na adolescência.
Romper paradigmas não é uma tarefa fácil, mas é possível, basta querer.
Tem que se estar consciente das dificuldades que poderá encontrar pelo caminho
e estar disposto a pagar o preço que lhe for exigido por isso. A todo o momento
é possível rever a situação que se está vivendo e analisar se é isso que se quer
ou se está na hora de mudar.
Entretanto, o que se percebe é que às vezes as pessoas precisam ficar
presas a uma situação que lhes faz sofrer, pois assim, conseguem alimentar a pulsão
de morte que prevalece em suas vidas e que lhes dá um ganho secundário. Para
reverter o quadro, a pulsão de vida precisa prevalecer na vida do indivíduo,
pois assim conseguirá perceber que é merecedor de ter uma vida melhor, mais tranqüila,
sem tantas preocupações e sofrimentos e se apropriar disso. Só que parece que
sofrer, passou a dar “status” para as pessoas, pois se observarmos, elas não
conseguem mais tabular uma conversa, só sabem falar das dores da alma e por
vezes, até das dores físicas, pois acabam somatizando. As pessoas estão
amarguradas, voltadas para si, para o seu sofrimento, projetando para o externo
a causa dos seus problemas, chegando a depositar no outro a causa das suas
angustias.
Essas situações me levam a fazer uma analogia com o Romantismo, movimento
vivido na Europa nas últimas décadas do século XVIII, onde as pessoas viviam a
arte do sonho e da fantasia. O espírito romântico do mundo estava centrado no
homem, tanto que os autores dessa época se voltavam para si, refletindo e
expressando em suas obras o drama da humanidade, descrevendo os amores trágicos
que as pessoas viviam. E isso me dá a sensação de que estamos voltando no
tempo, apesar de todos os avanços que a ciência e a tecnologia vêm nos
apresentando.
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