Por trabalhar direto com pessoas, estou sempre atenta ao
comportamento do ser humano e me chama atenção àquelas pessoas que sem
perceberem estão sempre se colocando para baixo. Falam mal de si, se
desqualificam, acreditam que ninguém olha para elas, se desfazem, não se valorizam
e parece que sentem prazer quando encontram pessoas que reforçam esta visão que
tem de si. Geralmente, são pessoas tristes, enfadonhas, deprimidas, que alimentam
a crença de que não são merecedores de coisas boas, que passam grande parte do
seu dia pensando na dor que toma conta de sua alma, por se enxergar tão ruim.
Sente-se culpado por tudo e se alguém tentar lhe mostrar que não é bem assim
como pensa, na tentativa de aliviar sua culpa, não aceita, justificando com
algo ainda pior. São as famosas pessoas que gostam de se chicotear.
Outro dia,
em uma das minhas idas a um café, em um intervalo de consultório, fiquei
prestando atenção em um casal que estava sentado a mesa ao meu lado. Como os ânimos
estavam meio alterados, dava para escutar a fala dos dois. Ela o desqualificava
o tempo todo, tudo o que ele fazia e dizia era errado, mas ao mesmo tempo,
dava-lhe várias tarefas para ele fazer, inclusive tarefas domésticas, pois ela
não podia, afinal, disse não ter nascido para fazer serviços domésticos. Aqui
já comecei a me interessar mais, pois sua fala mostrou que se tratava,
provavelmente, de uma emergente e com no mínimo um belo complexo de
inferioridade.
Na medida em
que o assunto foi se desenvolvendo, fui ficando animada com a conversa do
casal, fui prestando atenção e tomando vários cafés, pois resolvi que não
sairia dali sem ver o desfecho da história. Que feio, mas estava aproveitando
para estudar o case e torcendo para
que se desse rápido o desfecho, pois tinha que voltar para o consultório.
O rapaz
parecia ser uma pessoa boa, mas com sentimento de menos valia muito forte,
entre outras coisas. Não conseguia perceber que estava sendo manipulado por uma
pessoa com um complexo de inferioridade elevado, a ponto de precisar
desqualificar o parceiro, fazendo-o de seu “capacho”, para sentir-se importante.
Sabe-se que quando a pessoa está envolvida emocionalmente tem dificuldade de
perceber e entender o que está acontecendo em sua vida, por isso, não consegue
tomar uma atitude e acaba sofrendo.
Só existe um
manipulador, porque existe alguém que se deixe manipular e isto estava evidente
neste casal. Ele aceitava passivamente, tudo o que ela lhe mandava fazer, embora
em alguns momentos reagisse. Na ânsia de
mostrar para ela, que ele não era aquela pessoa cheia de defeitos que ela dizia
ser, fazia tudo o que ela lhe pedia ou mandava. Com isso, ele reforçava o
sentimento de superioridade que ela tinha em relação a ele, pois o tratava como
se fosse um Zé Mané e ele aceitava este papel que ela lhe deu.
Este jovem
não conseguia perceber o jogo que ela fazia para que ele se sentisse culpado e
fizesse tudo o que ela quisesse. Não conseguia ver os ganhos que ela tinha,
cada vez que lhe apontava seus erros e o desqualificava. Obviamente que ele
precisa de uma pessoa assim para reforçar a sua crença de não merecedor, de
incompetente e outras que deve ter e que precisam ser reforçadas para não
correr o risco de livrar-se delas, acabar com a sua relação e ser feliz.
O pior é que
nestes casos, muitas vezes, o casal se separa fisicamente, mas emocionalmente
não conseguem se separar e ficam sempre girando um em torno do outro, atendendo
as suas demandas e desenvolvendo um processo de retroalimentação de suas
crenças.
O ideal
seria que pessoas que tem este tipo de comportamento e de relacionamento
buscassem ajuda, para poder romper com este ciclo e poderem perceber quem
realmente são sem ter este reforço negativo constante em sua vida. Porque
errar, falhar, ter momentos de insucesso, de fraquezas são coisas normais da
vida do humano, o que não dá é para ficar convivendo com alguém nos apontando
isto como se fosse algo somente nosso, pois a culpa pega e faz um belo estrago.
Ah! Ia me esquecendo
de contar que o rapaz acatou todas as ordens de sua amada e mesmo saindo meio
irritado, foram embora bem abraçados. Vá entender!
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