O que será que é acionado
dentro de nós, quando nos deparamos com a dor do outro, a ponto de dificultar a
nossa forma de interagir com ele? A dor do outro e a fragilidade dele, nos
mobiliza por mostrar a nossa dificuldade de lidarmos com as nossas dores e o
quanto somos frágeis frente a elas.
Isso mexe com o nosso sentimento de onipotência, fazendo,
muitas vezes, que passemos uma impressão errada para pessoa que sofre. Na
tentativa de nos mostrarmos fortes e acreditando que seremos solidários se
tentarmos encorajá-la dizendo-lhe algo, a fim de aliviar o seu sofrimento,
somos levados a desenvolver um comportamento que poderá agredir a pessoa que
está em sofrimento, fazendo com que não se sinta acolhida e respeitada.
Isso é facilmente identificado nos casos de morte. Quando
uma pessoa morre, as outras se sentem na obrigação de dizer algo para o seu
familiar, sem se dar conta que nessas horas, o silêncio diz muito mais do que
qualquer palavra, pois tudo o que for dito, nada aliviará a dor da pessoa
enlutada. O abraço apertado, o afago, o segurar a mão é muito mais consolador
do que ouvir aquelas conhecidas frases do senso comum, como: “ele(a) descansou”,
“foi melhor, parou de sofrer”, “não chora, ele(a) não gostaria de te ver assim”,
“tens que ser forte, afinal isso faz parte da vida”, etc. Se as pessoas se
colocassem no lugar da pessoa enlutada, com certeza não diriam isso, pois como
nós podemos saber se a morte foi o melhor para aquela pessoa? Como não chorar
quando se perde um ente querido, se a dor que se sente é grande? Quem disse que
chorar, ficar triste ou se deprimir nos casos de morte é sinal de fraqueza?
Existem situações em nossas vidas, que se deprimir é o mais saudável que temos
a fazer e a morte é uma dessas situações.
Quando me deparo com uma situação dessas, confesso que
fico pensando e analisando o quanto somos egoístas, porque na realidade, o que
queremos, inconscientemente, é que o outro sofra em silêncio, não expresse sua
dor, pois não sabemos como lidar com ela e tememos nos desestabilizarmos,
deixando transparecer a nossa fragilidade, podendo o outro perceber que não
somos tão fortes o quanto queremos parecer. Esse tipo de comportamento me leva a questionar o quanto às pessoas tem medo de expor seus sentimentos, parecem esquecer que o humano
é movido por emoções e por isso, não deve ter vergonha de deixá-las
fluir.
Saber lidar com a dor do outro, é deixá-lo expressar, é
mostrar-se continente, solidário a ela e não exigir-lhe, muitas vezes, que tenha
a reação que nós julgamos a melhor, pois provavelmente não conseguirá ter e
poderá ficar mais desconfortável, por perceber que está nos incomodando. Viver
as dores da alma é a forma que temos de elaborá-las.
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