Jornal VALOR publica a tradução de matéria escrita
por Kate Kelland (Reuters , Londres) a respeito do "Efeito Vencedor"
em operadores de Operadores de grandes bancos e corretoras de Valores. As
pesquisas são de John Coates Do Deutsche Bank e Goldman Sachs. Coates passou 13
anos estudando a fundo o comportamento de seus colegas de trabalho na
Rockfeller University de N.York e Cambridge, Grã Bretanha.
Quando John Coates passou por um período muito
bem-sucedido como corretor de valores do Deutsche Bank e do Goldman Sachs, a euforia
que ele experimentou foi tão poderosa que ele decidiu investigar o tema. Assim,
após 13 anos trabalhando no pregão da bolsa de valores em Wall Street, ele se
mudou para os laboratórios de neurociências da Rockefeller University, em Nova
York (EUA), e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
No laboratório, o operador que virou neurocientista
se empenhou em descobrir o que aconteceu com seu cérebro quando ele estava
mergulhado naquele êxtase. Após vários anos pesquisando estudos feitos com
animais e algumas experiências interessantes com a saliva, ele concluiu que a
disposição para assumir riscos é motivada por um "efeito vencedor" -
um mecanismo hormonal em que cada vitória leva a tomada de mais riscos. "O
êxtase era mais poderoso que qualquer coisa que já sentira", disse Coates
em uma entrevista concedida durante uma conferência médica em Londres,
descrevendo a experiência de conseguir lucros enormes e grandes bonificações em
alguns dos maiores bancos do mundo.
Outros especialistas em psiquiatria e neurociências
presentes na conferência afirmaram as consequências de um "efeito
vencedor" que foge do controle podem levar algumas pessoas a se tornarem
políticos corrompidos, ditadores cruéis e até mesmo cirurgiões que gostam de
'brincar de Deus' nos hospitais. "Você fica eufórico, iludido, passa a
dormir menos, ter pensamentos competitivos e um maior apetite pelo risco.
Basicamente, você se transforma em um negociador sem escrúpulos", diz
Coates.
Depois que publicou os primeiros estudos
científicos que exploram esses traços presentes nos operadores do mercado,
Coates diz que foi procurado por pesquisadores que analisam políticos, soldados
e até mesmo esportistas. "Conforme as pesquisas avançavam, ficou claro que
estávamos indo além de estudar a biologia da tomada de riscos no mercado
financeiro, estávamos estudando a biologia de todos os tipos de tomada de
risco", disse
Com as evidências das consequências extremas do
"efeito vencedor" - operadores que partem para falcatruas e quebram
bancos inteiros, líderes políticos corrompidos pelo poder e que tratam seus
subordinados com crueldade ou soldados que se transformam em máquinas de matar
- Coates está indo mais fundo. "Quando você vê essa transformação
ocorrendo nas pessoas, vê que elas começam a se portar como senhores do
universo. E não se trata de um processo cognitivo. Não se trata nem mesmo de
ganância. É mais a sensação de consumar o poder, uma sensação de que você está
dominando o mundo."
Coates diz que ficou muito impressionado com o fato
de que quase todos os estouros envolvendo mais de US$ 1 bilhão - do tipo que
sacode as estruturas de um banco - foram obra de um operador que se encontrava
no fim de um período de resultados excepcionais. "Uma sequência de
vitórias parece estimular uma tomada de riscos excessiva", diz.
Intrigado e na ânsia de aplicar sua experiência
anterior em sua função de pesquisador em neurociências, Coates pediu a alguns
ex-colegas da City de Londres que concedessem a ele algum tempo e um pouco de
saliva. Ao longo de oito dias úteis consecutivos, pesquisadores colheram
amostras de saliva de 17 operadores do sexo masculino, de manhã e à tarde, para
medir os níveis de testosterona durante o dia de trabalho.
Os resultados foram reveladores. O nível diário de
testosterona esteve significativamente mais alto nos dias em que os operadores
ganhavam mais dinheiro do que a média mensal em um mês. E no período da manhã,
quando eles estavam com os níveis de testosterona elevados, seus lucros eram
significativamente maiores do que quando os níveis de testosterona estavam
baixos. Essas constatações refletem estudos parecidos feitos com animais que
também já constataram o "efeito vencedor" entre machos que brigam por
território ou por uma parceira, por exemplo.
Segundo Coates, elas também mostram que a decisão
de assumir riscos pelos humanos é psicológica e não apenas uma atividade
cognitiva. "Há na economia a crença de que andamos por aí com um
supercomputador em nossas mentes, que não é afetado pelo corpo e tem a
capacidade de calcular os retornos, as probabilidades e a alocação ideal de
capital", afirmou. "Mas é claro que a ciência não dá suporte a
isso."
As observações feitas por Coates na conferência
encontraram respaldo nas de outros participantes. O evento reuniu psiquiatras e
neurocientistas para examinar o fenômeno do excesso de confiança na vida
pública - em outras palavras, o que leva as pessoas com poder a se tornarem
corruptas e se comportar de maneira arrogante e destrutiva. Nassir Ghaemi,
professor de psiquiatria da Tufts University, de Massachusetts, disse na
conferência que desordens como a depressão podem frequentemente auxiliar
líderes políticos, econômicos e militares em tempos de crise, porque os
depressivos são mais compreensivos, são mais autocríticos e mais realistas em
relação ao mundo que os cerca.
Coates sugere que o que dá errado no caso dos
operadores mal intencionados é que o mecanismo hormonal que está por trás do
"efeito vencedor" se torna patológico, alimentando a
"exuberância irracional" e a tomada excessiva de riscos. Ele também
disse que não basta os comentaristas e analistas simplesmente observarem os
erros. Eles devem exigir estudos científicos adequados que possam fornecer
respostas conclusivas sobre o que deu errado. "O que estou descrevendo são
dados científicos negligenciados", disse.
A hipótese de Coates é que num certo nível de
aumento da testosterona, a tomada de risco efetiva gradualmente se transforma
em uma onda biológica de comportamento de risco excessivo. Se este for o caso,
é preciso mudar a maneira como os operadores são monitorados. "O problema
com os bancos é que seus sistemas de gerenciamento de riscos e planos de
remuneração estão ampliando essas ondas biológicas, quando deveriam fazer o
contrário. Em vez de sempre aumentar os limites de risco de operadores que
acumula vitórias, eles deveriam limitá-los ou mesmo dizer a eles para liquidar
suas posições e tirar três semanas de férias até reequilibrar os
hormônios", afirma. (Tradução
Mario Zamarian)
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