Total de visualizações de página

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

SABES COM QUEM ESTÁS FALANDO?

     
          Quem já não ouviu ou disse essa frase? Essa colocação, tão comum de se escutar, já foi estudada em 1979, pelo antropólogo Roberto Damatta em “Carnavais, malandros e heróis”, onde mostra que um dos dilemas básicos da sociedade brasileira é o conflito existente entre o indivíduo e a pessoa. Essas duas vertentes ideológicas podem ser percebidas como o cerne do modelo individualismo e hierarquia.

            Na visão do antropólogo, essa locução sinaliza a nossa tendência hierárquica e autoritária, presente em todo humano, com a diferença que alguns não sentem a necessidade de manifestá-la e outros fazem questão de lançar mão dela, a fim de se auto-afirmarem. Penso que também evidencia o lado narcísico do indivíduo, que faz com que se veja de forma grandiosa, importante, a quem todos devem render homenagens, ser submisso, pois afinal, ele é o grande centro do universo. É uma forma autoritária e radical que usa para se colocar acima dos demais.

            Ao agir dessa maneira, não percebe que está deixando transparecer algo que tanto quer esconder, a ponto de fazer uso de uma locução como essa “sabes com quem estás falando”? Por trás dela, existe um grande sentimento de inferioridade, de insegurança, de medo, de impotência. Usa essa expressão, na realidade, como um meio de defesa, sem se dar conta que assumi a posição de arrogante, antipático, por ser uma frase execrável.

            O sentimento de menos valia, a necessidade de se auto-afirmar, bem como a de demonstrar poder, leva-o a necessidade de criar um mecanismo de hierarquização, que deverá funcionar como medida de proteção. Dessa forma, consegue acreditar que é uma pessoa importante, diferenciada e que por isso, é merecedor de um tratamento especial.

            Quando pessoas que tem esse tipo de funcionamento assumem uma posição de destaque na sociedade ou na sua vida profissional, é comum se identificar essa fala. O interessante, nesses casos, é que existe uma dissociação no comportamento da pessoa, ao mesmo tempo em que se mostra jactancioso, em outros momentos, faz questão de mostrar o quanto é humilde, complacente, tolerante, generoso.

            Infelizmente, vivemos numa sociedade em que algumas pessoas precisam usar a posição social, nome, cargo, dinheiro de forma autoritária, para sinalizar que existe uma diferença entre as pessoas. Esse tipo de comportamento sinaliza quais são os parâmetros que utilizam para orientarem sua conduta social e política, e mais, mostra-nos a fragilidade e a pobreza de espírito do humano, nos dias de hoje, o que vem se tornado um sério problema em nossa sociedade.

           

Nenhum comentário:

Postar um comentário