Cada vez mais me
indigno com o comportamento de alguns pais, pois na minha percepção tiveram
filhos apenas para cumprirem um protocolo, atendendo a demanda da família, dos
amigos e da sociedade ou porque se percebem como seres reprodutores, agindo,
apenas, pelo seu instinto animal.
Domingo ao fazer minha caminhada no parque, fiquei muito
incomodada com a fala de uma senhora, que se dizia ”mãe” de uma menina (7/8
anos), que ouvia em silêncio os impropérios de sua mãe: “tu és uma criança
insuportável, ninguém quer ficar perto de ti, porque tu não prestas. O teu pai
já desistiu de ti, eu não te suporto mais, não aturo essa tua falta de humor.
Teus colegas e professores te odeiam, tu não deverias ter nascido... e por aí
foi.
Confesso que não acreditei quando comecei a escutar essa
fala atrás de mim, resolvi me virar para ter certeza que eu não estava tendo
uma alucinação auditiva. Nisso, vi uma menina frágil, bonita, quieta e
assustada com tudo o que ouvia. E claro que a psicóloga entrou em ação. Comecei
a pensar no sofrimento psíquico dessa criança e se realmente ela era tudo isso
que a suposta mãe dizia. Na realidade, ela era um reflexo de pais
desestruturados. Provavelmente, essa menina esteja funcionando como a sombra
dos pais, ou seja, por meio de seu comportamento, ela mostra aquele lado que
eles tentam omitir e isso, os deixa muito incomodados. Como não podia interferir,
apressei o passo, pois se bem me conheço, não ia demorar muito para abraçar a
causa.
Essa minha atitude não me deixou nada confortável, pois
não consegui parar de pensar naquela criança. Se no parque, ela era tratada
assim, como será em casa? Provavelmente, sofra agressões físicas também. Fiquei
imaginando como essas falas estão sendo registradas pelo seu inconsciente.
Obviamente que uma criança que é tratada assim, não poderá ter um comportamento
dócil, pois os seus pais lhe mostram, que ela é um objeto ruim e como “os pais
não mentem”, a criança acredita e o estrago está feito. Oxalá permita que ela
seja resiliente o suficiente para superar todos esses insultos, não partindo,
daqui um tempo, para o mundo da prostituição e drogadição.
Creio que essa senhora seja uma pessoa adoecida ou esteja
passando por um momento muito difícil, pois não é possível que uma mãe consiga
agir com tanta monstruosidade como agia. Frente essas situações, fico me
questionando o que leva algumas pessoas a terem filhos? Será que não sabem que
filho é um compromisso para o resto da vida, que dá trabalho, que exige um
monte dos pais? Será que eles não pensam nos prejuízos psíquicos que estão
causando nos filhos?
Se os pais soubessem a representação que a sua fala tem
na vida dos filhos, pensariam várias vezes antes de dizer algumas coisas para eles.
As crianças e os adolescentes que visitam nossos consultórios, na maioria das
vezes, assumiram o papel de bode expiatório ou da lata de lixo da família.
Quando o estrago está feito, os pais levam para tratamento, pois não sabem o
que aconteceu com o filho. Só que no momento que os motivos reais do comportamento
dos filhos começam a aparecerem, eles tiram da terapia, porque não toleram
ouvir que o problema não é a criança ou o adolescente, mas eles.
O comportamento das crianças e dos adolescentes são
reflexos do comportamento dos pais. Por isso, é importante avaliar, antes de
ter o filho, se o casal realmente quer ter um filho e se tem perfil para serem
pais.
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